vidas pelo poder do Estado. A meu ver, Lourdes Sola traça um
preciso diagnóstico em relação a essa dissonância entre poder da
política e o elemento do político na sociedade civil:
Ao mesmo tempo, pode-se derivar da sumária descrição ante-
rior o melhor exemplo de contraste nas formas de integração do
país ao cenário global. Por um lado, o adensamento das rela-
ções entre os atores do sistema de justiça e da PF, das faculda-
des de Direito de ponta às redes internacionais “dominantes”
de tradição anglo-saxã, sobretudo as norte-americanas. Por
outro, o viés protecionista e nacionalista da política comercial
brasileira que, com exceção do agronegócio, manteve a produ-
ção industrial à margem das cadeias produtivas globais, com
apoio do empresariado industrial. (2017, p. 191).
A agenda da sociedade civil afastou-se do Estado enquanto
ator central no processo de modernização social e desenvolvi-
mento da cidadania. No século XXI, a comunicação entre gover-
nantes e governados, a justiça e a equidade são ideias-chave para
a abertura de um espaço de (re)encontro entre cidadão e política.
Afastado das grandes ideias-mundo do século XX, o cidadão-elei-
tor vem adotando novos “critérios de legitimação política [...] a um
ritmo que o sistema de representação não logra absorver (SOLA,
2017, p. 197)”. Tais critérios também passam por um novo princi-
pio em relação à cultura jurídica da sociedade. O princípio contro-
verso “de igualdade perante a lei” adentrou ao universo da cida-
dania e foi incorporada ao jogo político, caracterizando-se por ser
um elemento subversivo em nossa formação. (2017, p. 201).
Em 2018, esse diagnóstico será duramente avaliado. A Opera-
ção Lava-Jato, ativa em relação ao princípio básico do republica-
nismo moderno, onde a lei deve servir para todos, conviverá com
um processo eleitoral que definirá seu legado em termos de legado
ou esfacelamento diante de algumas tentativas de esvaziar seu
poder de atuação. Por conseguinte, novamente os caminhos serão
definidos pelo caminho da democracia ao direcionarmos nossos
projetos e debates para o campo institucional e cultural das elei-
ções. A questão estará na qualidade dessa democracia, que poderá
retomar o caminho do populismo, à direita ou à esquerda, ou
poderá caminhar para um reformismo forte, que nos recoloque no
rumo do desenvolvimento social e cívico.
Sobre a obra: Brasil, brasileiros. Por que somos assim? De
Cristovam Buarque; Francisco Almeida; Zander Navarro. Brasília:
FAP/Verbena, 2017, 340p.
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Victor Augusto Ramos Missiato