Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 197

urbanizando-se , democratizando-se ( 2017 , p . 251 ). No entanto , a “ revolução burguesa ” brasileira “ não foi orgânica , nem funcional ”. O moderno não participou integralmente da modernização . Desse modo , um cidadão imperfeito se constituiu em meio à uma sociedade imersa a um novo processo revolucionário , onde a velocidade , a tecnologia , o mundo em conexão , a nova amplitude do mercado no cotidiano e a porosidade das fronteiras globalizadas produzem um cenário de fragmentação social , de movimentação incessante , de mudança ininterrupta , de incerteza e confusão ( NOGUEIRA , 2017 , p . 255 ). Diante desse quadro , o Estado já não mais consegue suprir as demandas de quem o sustenta . Resta-nos :
[...] descobrir um meio de fazer com que as novas disposições sociais produzam vida coletiva de melhor qualidade e sirvam de base para a instituição de um novo Estado . Hoje , a individualização está “ institucionalizada ”: impôs-se a todos . É um processo objetivo , que afirma o indivíduo diante dos grupos , que implica escolhas individuais incessantes , que gera muitas dúvidas e poucas convicções . Não se confunde , porém , com individualismo ou egocentrismo mesquinho . Os indivíduos individualizados são capazes de cooperação voluntária e de entrega coletiva . Podem se mobilizar e agir politicamente , mesmo que por fora de partidos e da arena política estrita . ( NOGUEIRA , 2017 , p . 258 ).
Em outro instigante texto , o sociólogo José de Souza Martins procura identificar a trajetória da sociedade brasileira em sua travessia na modernidade . Em um sentido próximo daquele percebido por outros intelectuais acerca das últimas grandes manifestações sociais brasileiras , Souza Martins pondera o seguinte : “ o brasileiro que silencia na incerteza das urnas mas grita e berra no protesto difuso e emocional das ruas , do querer indefinido , do saber sem sabedoria ” ( 2017 , p . 147 ). Pela primeira vez distantes de um salvador sebastianista , o povo brasileiro adentra a um “ abismo de incertezas ” quando vê a escola , sua base formadora , privada “ de esperança e do sentido de pertencimento ”.
Dentre os dezesseis instigantes textos , encerro com a reflexão da cientista política Lourdes Sola , que me inspirou a pensar no título da resenha . Em Somos assim ? Ficamos assim ? Estamos assim ? Pequenas-grandes histórias para refletir sobre uma crise toda nossa , a autora desvenda a localização e a resolução para os impasses contemporâneos , quer seja , a esfera da política . Sua complexidade atual não atingiu a compressão dos setores da elite política e empresarial , pois suas demandas relutam em ser absor-
Para onde vamos ?
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