Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 195

Ainda de acordo com os organizadores , “ provavelmente ”, não haveria outra possibilidade de se analisar o Brasil contemporâneo , ainda mais pelo fato de que “ quase todos são cientistas sociais de ofício e , por esta razão , são leitores críticos das realidades sociais e seus condicionantes históricos ” ( ALMEIDA ; BUAR- QUE ; NAVARRO , p . 08 , 2017 ). No entanto , um breve olhar envolvendo a trajetória do Brasil nos últimos cinquenta anos , ilustra que o pessimismo com o presente e o futuro não deveria nortear as visões do país , pois , enquanto as democracias dos chamados países desenvolvidos vivenciaram um aumento da desigualdade nas últimas décadas :
No mesmo período , o Brasil caminhou na direção oposta . A desigualdade de renda caiu sistematicamente . O pico da desigualdade de renda ocorreu em 1989 , final do governo Sarney , quando o piso da renda dos 5 % mais ricos correspondia a 79 vezes o teto da renda dos 5 % mais pobres . Desde então , essa razão vem apresentando queda sistemática . Em 2012 , ano em que a série atingiu seu patamar mais baixo , essa razão ainda era de 36 . ( ARRETCHE , 2015 , p . 01 ).
Em perspectiva , “ ambas as trajetórias – dos países desenvolvidos e do Brasil – subverteram teorias solidamente estabelecidas ” ( ARRETCHE , 2015 , p . 02 ). Desse modo , embora fundamental para compreender o Brasil contemporâneo , o exercício ensaístico , presente na atmosfera intelectual brasileira , necessita distanciarse do sentimento regressivo e aprofundar-se em horizontes e perspectivas que deem sentidos a um quadro de reflexão e possibilidades de ação , em um país que , apesar dos significativos avanços , ainda registra um nível excrescente em relação à desigualdade social . Essa tentativa encontra-se em alguns textos presentes no livro , quando tentam responder por que estamos assim e como podemos transformar esse cenário .
O meu primeiro texto escolhido refere-se às ruas brasileiras , suas diversas faces do Brasil e o desafio da construção da democracia . Sob autoria do historiador Alberto Aggio , o texto procura compreender as demandas sociais estabelecidas por diversos movimentos de rua nos últimos anos . Imersas na era da hipermodernidade – conceito estabelecido por Gilles Lipovetsky e Jean Serroy –, as jornadas de 2013 representaram uma nova estética social em comparação com movimentos sociais de décadas anteriores . Ao contrário das Diretas Já !, em 1984 , ou do impeachment de Collor , em 1992 , “ as jornadas de 2013 não produziram uma pauta clara ” ( AGGIO , 2017 , p . 19 ). Seu início ocorreu após o anúncio do aumento
Para onde vamos ?
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