Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 194

políticos, econômicos e sociais do país. Cinco anos depois das Jornadas de Junho, Lula tornou-se condenado em primeira e segunda instância, sendo que neste último julgamento, sua pena aumentou de nove para doze anos, após a condenação no caso Tríplex. Em 2016, o foguete Redentor fracassara em seu voo e uma nova capa da The Economist estampava a seguinte pergunta: Has Brazil blown it? Diante de tamanha euforia e frustração, em um espaço tão curto de tempo, o sentimento da nação brasileira e de sua respec- tiva intelectualidade não tardaria em refazer a seguinte reflexão: Brasil, brasileiros. Por que somos assim? Imersos a tal questionamento, Cristovam Buarque, Francisco Almeida e Zander Navarro organizaram e convidaram diversos intelectuais renomados para que, ao serem indagados por tal reflexão, escrevessem ensaios sobre a nossa identidade social, nacionalidade e cultura. Segundo seus organizadores, a motiva- ção em produzir este livro encontra-se, sobretudo, “pelo senti- mento coletivo de profunda inquietação e o disseminado, ainda que difuso, mal-estar que nesta quadra histórica a quase todos vêm acometendo, praticamente em todos os estratos sociais” (ALMEIDA; BUARQUE; NAVARRO, p. 07, 2017). Embora, ainda de acordo com os autores, tal conjuntura não signifique que esteja- mos em um “estado de crise”, cujo desfecho levaria a corrosão da sociedade e suas estruturas. Sob um outro olhar: [...] talvez “crise” não seja a melhor definição para os tempos que vivemos. Que estes são tempos de ruptura, de passagem ou de transição, não parece existir nenhuma dúvida a respeito. Mas a evidência de uma autêntica crise social exigiria, pelo menos, de um lado, o desfazimento de uma parte substantiva do quadro institucional, associado, no outro lado, a um quadro de reações sociais semipermanentes na esfera pública, o que não tem ocorrido – pelo menos uma proporção que seja expres- siva e reiterada. (ALMEIDA; BUARQUE; NAVARRO, p. 08, 2017). A razão para tal diagnóstico encontra-se no funcionamento das “instituições principais”, que deixaram de ser confundidas com os indivíduos que as compõem. Entretanto, a maioria dos textos publicados demonstram um sentimento de frustração com um Brasil que poderia ter sido ou um Brasil que nunca chegou a ser. Não é de se estranhar, portanto, que “os ensaios, em sua maioria, são pessimistas em relação ao estado atual da sociedade brasileira, e mesmo em relação ao futuro próximo”. 192 Victor Augusto Ramos Missiato