Rua Dona Mariana 63 – Botafogo
Meu caro Xavier Placer,
Fiquei muito sensibilizado com sua carta pascal. Recebi-a nesses
dias de repouso e meditação. Há tempos que não passava os olhos
em A alma do tempo. Provocado pelas observações da sua carta,
com ela em mão, percorri esse livro e, sem nenhum sentimento de
vaidade, senti que ele representa bem a claridade do meu crepús-
culo vital. Um homem de 78 anos, como eu, sente-se consolado dos
lados escuros da existência humana, quando percebe que a
mensagem fixada de sua vida pode ajudar os leitores a viver. Reco-
lhido à paz do casal (nos dois sentidos desta palavra portuguesa),
percebo que o homem idoso não é solitário se se acompanha, pois
a solidão – que tanto atinge aos jovens – no fundo não é senão a
ausência de si mesmo. Sua carta provoca-me esta presença de
mim dentro de mim, do que vivi no que vivo, e, talvez, no que outros
viverão. Não pense que estou me isolando nesta posição. Penso em
outros [ilegível] e companheiros de [ilegível], como Drummond ou
Nava, que deverão sentir a mesma impressão. Vejo que você é
professor da Uni-Rio e sei que a sede dela é próxima à minha casa,
pois fica em Voluntários da Pátria. Se um dia – ou mais de um dia
– lhe aprouver, telefone para esta velha casa de Dona Mariana e
venha conversar um pouco. Desculpe o descoordenado desta carta
não [ilegível] e aceite o abraço do colega agradecido
Afonso Arinos
A segunda carta é datilografada:
Rio de Janeiro, 12 de julho de 1984
Ilmo. Sr.
Professor Xavier Placer
Niterói – RJ
Meu caro Xavier,
Tive grande satisfação em receber suas palavras amigas de
adesão às opiniões que manifestei na recente entrevista ao
Jornal do Brasil.
Concordamos em que os atuais acontecimentos políticos são de
tal gravidade que nenhum brasileiro consciente pode quedar-se
insensível. E acredito, por isso mesmo, que grandes mudanças
estão por vir.
Enquanto isso, sem cultivar a presunção de realizar esforço
notável, procuro contribuir, dentro de minhas limitadas possibi-
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Edmílson Caminha