Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 175

reproduzida , a gravação de uma canção que , naquele verso – nesta luta final –, ressoa em nossos corações .
Lá se fora o corpo de Armênio . A esperança refletida no fundo de seus olhos serenos restava , no entanto , entre nós . Iluminando os caminhos a serem experimentados pelos que ainda lá estavam . Um dia , por certo , nos reencontraremos na cidade de férias , férias boas que não acabam mais .
Tenho estórias e histórias a contar de nossas conversas , do Tio corrigindo e emendando artiguinhos que escrevi para serem publicados na Gazeta Mercantil e de minhas confidências de irmão . Durante o tempo todo em que exerci a magistratura , seu olhar , iluminado pela phrónesis de Aristóteles , me inspirou . Nada de ciência , prudência . Armênio iluminou o voto que proferi , como relator , no processo em que se discutia a amplitude da anistia . Conversamos muito , longamente , foi ele que me conduziu em direção ao correto . Curiosamente , sempre o tive como um irmão , embora ele e meu pai tivessem nascido em 1916 e em 1918 , nos meses de maio de então .
Com Marx estive também , em tudo quanto li do que escreveu . Guardo ao lado dos meus livros , cá em Tiradentes – onde estou agora a escrever – fotos desses meus dois amigos de verdade .
Como o espaço que aqui me resta é pequeno , basta-me repetir uma lição do então jovem Marx – quando a escreveu – a respeito do Direito e das leis : “ A lei é universal ; o caso que deve ser decidido através da lei é individual ; para submeter o individual ao universal é necessário um julgamento ; o julgamento é problemático ; o juiz também faz parte da lei ; se as leis fossem aplicadas por si mesmas , os tribunais seriam supérfluos ”.
Se me perguntarem o que me une aos dois , direi que é a Amizade . Nós a cultivaremos em algum lugar do Espaço , para sempre .
Marx e Armênio , três séculos em maio !
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