Marx e Armênio,
três séculos em maio!
Eros Roberto Grau
E
is de repente, aqui, o mês de maio e suas rosas. A uma delas
– qual na canção de Custódio Mesquita e Evaldo Ruy –
ofereço meu coração. Ouço esta canção, agora, numa velha
vitrola de discos de 78 rotações, lembrando-me de dois amigos.
Ao me aproximar dos 80 anos – chegarei lá? –, dúvidas tomam
conta de mim e o esquecimento, uma coisa terrível, me comove.
Não que não me lembre disto ou daquilo, não. O esquecimento dos
outros e pelos outros é que me entristece.
No dia 27 de fevereiro passado, participei de um debate orga-
nizado pelo Estadão cujo tema era “Modernizar a Constituição”.
Ali pelas tantas, citei um trecho escrito por alguém no século 19:
“Em um determinado estado do seu desenvolvimento, as forças
materiais produtivas da sociedade entram em contradição com as
relações de produção existentes ou – o que não constitui senão
uma expressão jurídica delas – com as relações de propriedade no
seio das quais vinham se movendo até então. De formas de desen-
volvimento das forças produtivas que eram, essas relações se
tornam entraves delas. Inicia-se então uma época de revolução
social. A transformação da base econômica altera mais ou menos
rapidamente toda a enorme superestrutura”.
O auditório estava completo, cheio de gente atenta a escutar-
nos, mas apenas duas pessoas se deram conta de que eu acabara
de ler algumas linhas escritas por um velho alemão, o camarada
Karl Marx, no prólogo da Contribuição à Crítica da Economia
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