Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 166

Um dos processos mais característicos que se fez notório é o da participação política ativa das igrejas evangélicas. A chegada de um pastor a um segundo turno eleitoral na Costa Rica ou a participação de setores do evangelismo a favor da “linha dura” de Álvaro Uribe, no processo de paz na Colômbia mostram às claras este fenômeno. Como se desenvolveu isto? Quais são as linhas políticas que manejam os setores evangélicos latino-americanos e por que parecem estar tão unidos aos setores conservadores? Na América Latina, a agenda política das comunidades evan- gélicas também tem sido ampla e diversa. No entanto, vale desta- car dois aspectos que se destacam por sua frequência. O primeiro se relaciona com a busca de condições legais de liberdade reli- giosa, agenda que dominou as últimas décadas do século XX. Mais que lutar por um Estado laico e uma completa separação igreja Estado, se concentrou em exigir ao Estado que os privilé- gios que este havia outorgado à Igreja Católica se estendessem às igrejas evangélicas. Mais recentemente, e em certa medida como reação aos movi- mentos sociais que lutam pelo reconhecimento dos direitos à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, trans e intersexuais (LGBTI), os evangélicos priorizaram o que alguns especialistas conceitualizaram como “agenda moral”. Esta agenda se opõe ao que os evangélicos denominam “a ideología de gênero”. Segundo a perspectiva evangélica, o único matrimônio legítimo é o consti- tuído por um par heterossexual, daí porque se opõem ao reconhe- cimento dos matrimônios entre pessoas do mesmo sexo, à legali- zação da adoção de filhos, por parte de pares homossexuais, e à toda iniciativa de “educação sexual” que inclua a tolerância e o reconhecimento dos direitos da comunidade LGBTI. Esta agenda moral tem aglutinado correntes evangélicas muito diversas, e se constituiu uma bandeira eleitoral que, entre outras coisas, lhe outorgou o triunfo a quem se opunha a referendar o Acordo de Paz, na Colômbia, em 2016. Ficou muito claro e evidente que quem liderava a oposição ao referendo do Acordo baseou parte de sua estratégia de campanha em divulgar a ideia de que o Acordo promovia os direitos da comunidade LGBTI. Como foi se construindo e cimentando o diálogo entre estes atores religiosos evangélicos e setores do poder? Em que período começou a evidenciar-se este processo de aproximação do evange- lismo à área política? 164 William Mauricio Beltrán