Breve história do risco
Luiz Otavio Cavalcanti
O
fenômeno Trump não é um fato isolado. Representa a
sequência de eventos com o mesmo corte. Veja: a candi-
data da extrema direita, na França, Marine Le Pen, foi fina-
lista no segundo turno na eleição presidencial francesa. O primeiro
ministro italiano, Mateo Renzi, teve as reformas bloqueadas pelo
Parlamento. O Reino Unido pediu para sair da União Europeia,
pressionado pelo voto das cidades menores. A extrema direita
alemã alcançou quantidade de votos nas últimas eleições impondo
sua presença na coalizão do governo Ângela Merkel.
O conjunto destes acontecimentos sugere nova clivagem na
análise do cenário político. Já não se trata mais de situar os fatos
segundo uma ótica de esquerda e direita. Mas trata-se de encarar o
século XXI como o espaço onde se desenrola embate entre vencedo-
res e perdedores da globalização. Já não se lida com a disputa entre
capitalismo e comunismo. O que interessa agora é quem vai salvar
meu emprego, minha qualidade de vida, na economia globalizada.
Claramente, as bases sociais da esquerda e da direita sofre-
ram alterações. Não se configura exclusividade de votos do prole-
tariado. Há incorporação de setores da nova classe média, de um
lado e de outro. E que setores são estes? Setores que se dirigem
tanto para a esquerda quanto para a direita. São perdedores da
globalização. São trabalhadores de setores tradicionais, menos
competitivos e menos abertos à economia global.
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