Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 149

Mentiras na verdade da República Flávio R. Kothe Na terra como no céu Assim na terra como no céu: perdidos estaremos enquanto não nos recuperarmos da alienação metafísica. Estamos num país em que a oligarquia nos três poderes tem aparecido cada vez mais como corrupta e mentirosa. Isso não acontece por acaso, tem raízes metafísicas, não somos melhores que outros nisso. Se estas não forem expostas, não serão superadas; explicitá-las não garante cura, pois é mais cômodo ficar preso a elas. Calar é conformar-se; falar, suicidar-se. Como se fizer, vai se fazer errado. A duplicação metafísica do mundo, consagrada pelo cristia- nismo, pelo romantismo e por movimentos totalitários, é pregada em Platão, especialmente nas falas de Sócrates que, sob a aparên- cia de filósofo e antissofista, é um declarado missionário de Athon. A lógica do “mito da caverna” é impositiva: quem visitou uma caverna sabe que existe o mundo fora da caverna, portanto exis- tem o céu e seus deuses. Sócrates pretende ser superior aos “sofis- tas”, que são professores pagos e, só por isso, aparecem como grandes mentirosos. Alguém ser pago ou não por uma aula não faz a diferença entre ela ser ou não verdadeira. Platão não foi platônico, mas propiciou o platonismo. Carrega culpa. Aristófanes apresentou, em As nuvens, Sócrates como o maior sofista. Isso é mais do que uma piada, é uma tragédia amarga, em que estamos mergulhados ainda. Se “o filósofo” não vive do ensino, de que vive ele? Do trabalho escravo. Como Platão e Aristóteles. Um 147