Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 140

visão criativa e imaginativa no processo de construção das nações. Para esse autor, a nação é uma “comunidade política imaginada”, que é limitada e soberana. Imaginada porque não é preciso o contato face a face entre os indivíduos de uma determinada nação para que se reconheçam como parte integrante de uma mesma comunidade. Limitada porque, por mais móveis que sejam as suas fronteiras, essas são finitas, já que “nenhuma nação se imagina a si própria como tendo os mesmos limites que a huma- nidade” – como era possível, em outros tempos, com o messia- nismo religioso. Por fim, é soberana porque se estabelece de forma definitiva ante o desmoronamento do mundo dinástico e da comu- nidade religiosa, recuperando nessa cruzada alguns aspectos fundamentais desses sistemas culturais, “a partir dos quais – e contra as quais se constituiu” (p. 25-27). Aqui, ressalta-se a importância da noção de pertencimento, sentimento que gera os chamados “filhos da nação”, muitas vezes dispostos a lutar e a morrer por sua pátria. Outra inovação de Anderson é localizar o surgimento do nacio- nalismo na América dos séculos XVIII e XIX. Segundo este autor, o pioneirismo foi obra dos crioulos, que “constituíam simultanea- mente uma comunidade colonial e uma classe alta” (p. 89) e que, diante da exploração e jugo da metrópole (dos “espanhóis penin- sulares”), rebelaram-se e proclamaram a Independência, aprovei- tando-se, dentre outros fatores típicos da colonização espanhola na América, da imprensa para mobilizar as massas populares para o seu fim – a emancipação política –, que preconizava neces- sariamente a formação de um Estado nacional e de identidade política diversa da espanhola. As elites políticas brasileiras e a construção do Brasil nação no contexto da Independência Resta agora o esforço para historicizar, na primeira experiência parlamentar brasileira, a construção, por parte de suas elites polí- ticas, da definição de Brasil nação e do brasileiro. Muitos eram os projetos políticos de nação em jogo nos idos de 1822. Diferentes grupos disputavam a melhor maneira de voltar-se para o passado – colonial, bem ou mal ligado a Portugal – inseridos em um contexto de rápidas transformações políticas. Dialogando com Reinhart Koselleck (2006), pode-se afirmar que os espaços de experiência se acumulavam com uma rapidez nunca antes presenciada, proje- 138 Cecília Siqueira Cordeiro