visão criativa e imaginativa no processo de construção das nações.
Para esse autor, a nação é uma “comunidade política imaginada”,
que é limitada e soberana. Imaginada porque não é preciso o
contato face a face entre os indivíduos de uma determinada nação
para que se reconheçam como parte integrante de uma mesma
comunidade. Limitada porque, por mais móveis que sejam as
suas fronteiras, essas são finitas, já que “nenhuma nação se
imagina a si própria como tendo os mesmos limites que a huma-
nidade” – como era possível, em outros tempos, com o messia-
nismo religioso. Por fim, é soberana porque se estabelece de forma
definitiva ante o desmoronamento do mundo dinástico e da comu-
nidade religiosa, recuperando nessa cruzada alguns aspectos
fundamentais desses sistemas culturais, “a partir dos quais – e
contra as quais se constituiu” (p. 25-27). Aqui, ressalta-se a
importância da noção de pertencimento, sentimento que gera os
chamados “filhos da nação”, muitas vezes dispostos a lutar e a
morrer por sua pátria.
Outra inovação de Anderson é localizar o surgimento do nacio-
nalismo na América dos séculos XVIII e XIX. Segundo este autor,
o pioneirismo foi obra dos crioulos, que “constituíam simultanea-
mente uma comunidade colonial e uma classe alta” (p. 89) e que,
diante da exploração e jugo da metrópole (dos “espanhóis penin-
sulares”), rebelaram-se e proclamaram a Independência, aprovei-
tando-se, dentre outros fatores típicos da colonização espanhola
na América, da imprensa para mobilizar as massas populares
para o seu fim – a emancipação política –, que preconizava neces-
sariamente a formação de um Estado nacional e de identidade
política diversa da espanhola.
As elites políticas brasileiras e a construção do Brasil nação
no contexto da Independência
Resta agora o esforço para historicizar, na primeira experiência
parlamentar brasileira, a construção, por parte de suas elites polí-
ticas, da definição de Brasil nação e do brasileiro. Muitos eram os
projetos políticos de nação em jogo nos idos de 1822. Diferentes
grupos disputavam a melhor maneira de voltar-se para o passado
– colonial, bem ou mal ligado a Portugal – inseridos em um contexto
de rápidas transformações políticas. Dialogando com Reinhart
Koselleck (2006), pode-se afirmar que os espaços de experiência se
acumulavam com uma rapidez nunca antes presenciada, proje-
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Cecília Siqueira Cordeiro