na forma de uma agremiação horizontal e profunda, perfazendo o
sentido de fraternidade que carrega.
As raízes culturais teriam, para Anderson, influência funda-
mental na formulação da ideia de concepção de uma comunidade
e, por consequência, do nacionalismo. Nesse sentido, a comuni-
dade religiosa e o reino dinástico são destacados como “quadros
de referência inquestionados, em grande medida como a naciona-
lidade é hoje” (ANDERSON, 1991, p. 33). Na qualidade de sistemas
culturais, esses mecanismos possuem uma característica pecu-
liar, eles dialogam com o corpo social por meio de uma linguagem
que consegue agregar valores similares e criar uma comunidade
imaginada. O imaginário nacional é constituído com base em
uma ideia inquestionável, entretanto produz uma consciência
nacional que permeia as mais diversas camadas sociais. Ander-
son destaca, ainda, o sistema de produção capitalista e o advento
da imprensa como mecanismos de expansão cultural, principal-
mente por intermédio da difusão dos vernáculos orais.
Peter L. Berger, por sua vez, destaca o sentido tradicional de
cultura, nas ciências sociais, “como as crenças, valores e estilos
de vida das pessoas comuns em sua existência cotidiana”
(BERGER; HUNTINGTON, 2004, p. 12). Nesse sentido, é sensato
pensar que as identidades culturais se conectassem mais às
relações regionais do que aos aspectos mais abrangentes; no
entanto, a língua é um dos aspectos que Berger traça como
elementares para a disseminação de uma cultura. A linguagem
é a característica essencial, que, inclusive, permite a difusão de
determinadas ideias e torna o corpo social mais homogêneo;
portanto, a literatura é um vetor importante para a consolidação
de uma identidade nacional.
No caso específico do Brasil, a constituição de um ideário
nacional é decorrente de um projeto político, embasado, em grande
medida, em ideias europeias. A literatura foi o primeiro ponto de
apoio desse projeto político. O Romantismo, no século XIX, foi um
movimento literário que estruturou, no Brasil independente, um
sistema literário com características brasileiras, na concepção de
Antonio Candido:
No Romantismo predomina a tônica localista, com o esforço de
ser diferente, afirmar a peculiaridade, criar uma nova expres-
são e se possível única, para manifestar a singularidade do
país e do eu. […] Mas é claro que isso continuou a ser feito sob
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Matheus Martins Ferreira