lista – “tudo que é sólido desmancha no ar” – foi tão real como
nestes tempos de globalização. Mas se podemos perdoar a visão
excessivamente otimista de Marx sobre o desenvolvimento das
forças produtivas no século XIX, não é mais possível ter a mesma
atitude em relação à globalização.
Os seus efeitos negativos estão à vista de todos: hegemonia do
capital financeiro e das empresas transnacionais; competição
acirrada por taxas de lucro cada vez maiores; esgotamento das
riquezas naturais do planeta, inclusive a água; cultura de
consumo de bugigangas eletrônicas e digitais que envelhecem em
ritmo cada vez mais acelerado, exigindo constante renovação;
mercado de trabalho cada vez mais estreito e, por fim, sentimento
generalizado de insegurança com respeito ao futuro.
Em um mundo tão volátil, não é de se espantar que as pessoas
aspirem por estabilidade – econômica, social, cultural etc. E são
as instituições do Estado que podem proporcionar esta estabili-
dade. É por este motivo que um partido responsável e comprome-
tido com o bem-estar da sociedade tem que desenvolver políticas
voltadas para o fortalecimento das instituições que garantam
estabilidade para a população, o que exige um projeto nacional de
desenvolvimento, que não seja baseado nem no nacionalismo
protecionista de cunho populista, nem na hegemonia incontida do
mercado. Desgraçadamente, a direita extremista, a esquerda
retrógrada e o nacionalismo xenófobo são as correntes políticas e
ideológicas que têm monopolizado a oposição à globalização,
enquanto que a esquerda democrática se omite desta disputa, ou,
pior ainda, enaltece ingenuamente o brilhante futuro da humani-
dade prometido pela globalização.
Para evitar mal-entendidos, é preciso assinalar uma obvie-
dade: não é que o novo não ocorra ou que não se deva buscá-lo,
seja na política ou em qualquer outro ramo de atividade humana.
Mas igual que uma criança ao nascer encontra um mundo já
“preparado” para ela, onde irá desenvolver-se, atingir a idade
adulta e buscar suas opções, na política a luta pelo novo somente
será consequente se estiver ancorada em uma tradição, e manter
com esta uma continuidade. A filosofia clássica alemã chamava
esta dialética de “superar conservando” – o novo não pode negar
os marcos civilizatórios e as conquistas anteriores, mas elevá-los
a um novo patamar.
Um olhar sobre o fetichismo do novo
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