Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 129

lista – “tudo que é sólido desmancha no ar” – foi tão real como nestes tempos de globalização. Mas se podemos perdoar a visão excessivamente otimista de Marx sobre o desenvolvimento das forças produtivas no século XIX, não é mais possível ter a mesma atitude em relação à globalização. Os seus efeitos negativos estão à vista de todos: hegemonia do capital financeiro e das empresas transnacionais; competição acirrada por taxas de lucro cada vez maiores; esgotamento das riquezas naturais do planeta, inclusive a água; cultura de consumo de bugigangas eletrônicas e digitais que envelhecem em ritmo cada vez mais acelerado, exigindo constante renovação; mercado de trabalho cada vez mais estreito e, por fim, sentimento generalizado de insegurança com respeito ao futuro. Em um mundo tão volátil, não é de se espantar que as pessoas aspirem por estabilidade – econômica, social, cultural etc. E são as instituições do Estado que podem proporcionar esta estabili- dade. É por este motivo que um partido responsável e comprome- tido com o bem-estar da sociedade tem que desenvolver políticas voltadas para o fortalecimento das instituições que garantam estabilidade para a população, o que exige um projeto nacional de desenvolvimento, que não seja baseado nem no nacionalismo protecionista de cunho populista, nem na hegemonia incontida do mercado. Desgraçadamente, a direita extremista, a esquerda retrógrada e o nacionalismo xenófobo são as correntes políticas e ideológicas que têm monopolizado a oposição à globalização, enquanto que a esquerda democrática se omite desta disputa, ou, pior ainda, enaltece ingenuamente o brilhante futuro da humani- dade prometido pela globalização. Para evitar mal-entendidos, é preciso assinalar uma obvie- dade: não é que o novo não ocorra ou que não se deva buscá-lo, seja na política ou em qualquer outro ramo de atividade humana. Mas igual que uma criança ao nascer encontra um mundo já “preparado” para ela, onde irá desenvolver-se, atingir a idade adulta e buscar suas opções, na política a luta pelo novo somente será consequente se estiver ancorada em uma tradição, e manter com esta uma continuidade. A filosofia clássica alemã chamava esta dialética de “superar conservando” – o novo não pode negar os marcos civilizatórios e as conquistas anteriores, mas elevá-los a um novo patamar. Um olhar sobre o fetichismo do novo 127