Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 125

periferia que absorviam o American way of life, a globalização atual “democratizou” esta possibilidade, disseminando a cultura do centro – o consumismo barato e o entretenimento raso –, em todas as camadas das populações periféricas. Torna-se assim difícil entender a razão de todo este entusiasmo com as “possibilidades abertas” pela globalização e com o suposto “cosmopolitismo” que daí advém, se todos os dados disponíveis mostram que a globalização não tem levado a qualquer distribui- ção de riqueza em nível internacional, e, neste sentido, ela é uma continuação, certamente mais acelerada e profunda, da expansão do capitalismo mundial pelo qual o planeta vem passando. No que diz respeito à realidade brasileira e à política domés- tica, a grande maioria dos temas levantados e debatidos no XIX Congresso não apresentou qualquer novidade: desigualdades sociais, reformas do sistema político e do Estado, desenvolvimento sustentável, informalidade do mercado de trabalho etc. Estes são problemas crônicos da realidade brasileira, o que é claro não os faz menos importantes – ao contrário, são eles que afligem a maio- ria da população. Mas alguns temas parecem trazer novidades relevantes: a discussão sobre forma de governo, a aliança com os liberais, as políticas de identidade e os movimentos cívicos. O questionamento do sistema presidencialista não tem nada de novo, já que esta forma de governo tem sido criticada, faz algum tempo, tanto no seio do PPS como em outras agremiações parti- dárias. Mas a possível opção pelo semipresidencialismo é uma novidade que ganhou mais fôlego durante o XIX Congresso. E realmente, a defesa do parlamentarismo em sua forma mais “pura” se choca com várias barreiras no Brasil, da falta de um sistema partidário estável à existência de uma cultura política que privilegia um chefe de Estado forte. O semipresidencialismo, seja em sua versão portuguesa ou francesa, poderia desta forma combinar a vantagem da presença de gabinetes formados a partir de coalizões políticas, cuja formação ou dissolução não provoca- riam crises, com a tradição brasileira de uma presidência forte. Uma aproximação da esquerda democrática com os liberais pode também parecer um tema tradicional, haja vista a tradição “aliancista” tanto do PCB como de seu sucedâneo, o PPS. Mas não se trata, na atual conjuntura, de repetir uma prática instrumen- tal visando fins imediatos. Trata-se, na verdade, de ir além disso e incorporar, no pensamento da esquerda democrática, elementos Um olhar sobre o fetichismo do novo 123