periferia que absorviam o American way of life, a globalização
atual “democratizou” esta possibilidade, disseminando a cultura
do centro – o consumismo barato e o entretenimento raso –, em
todas as camadas das populações periféricas.
Torna-se assim difícil entender a razão de todo este entusiasmo
com as “possibilidades abertas” pela globalização e com o suposto
“cosmopolitismo” que daí advém, se todos os dados disponíveis
mostram que a globalização não tem levado a qualquer distribui-
ção de riqueza em nível internacional, e, neste sentido, ela é uma
continuação, certamente mais acelerada e profunda, da expansão
do capitalismo mundial pelo qual o planeta vem passando.
No que diz respeito à realidade brasileira e à política domés-
tica, a grande maioria dos temas levantados e debatidos no XIX
Congresso não apresentou qualquer novidade: desigualdades
sociais, reformas do sistema político e do Estado, desenvolvimento
sustentável, informalidade do mercado de trabalho etc. Estes são
problemas crônicos da realidade brasileira, o que é claro não os
faz menos importantes – ao contrário, são eles que afligem a maio-
ria da população. Mas alguns temas parecem trazer novidades
relevantes: a discussão sobre forma de governo, a aliança com os
liberais, as políticas de identidade e os movimentos cívicos.
O questionamento do sistema presidencialista não tem nada
de novo, já que esta forma de governo tem sido criticada, faz algum
tempo, tanto no seio do PPS como em outras agremiações parti-
dárias. Mas a possível opção pelo semipresidencialismo é uma
novidade que ganhou mais fôlego durante o XIX Congresso.
E realmente, a defesa do parlamentarismo em sua forma mais
“pura” se choca com várias barreiras no Brasil, da falta de um
sistema partidário estável à existência de uma cultura política
que privilegia um chefe de Estado forte. O semipresidencialismo,
seja em sua versão portuguesa ou francesa, poderia desta forma
combinar a vantagem da presença de gabinetes formados a partir
de coalizões políticas, cuja formação ou dissolução não provoca-
riam crises, com a tradição brasileira de uma presidência forte.
Uma aproximação da esquerda democrática com os liberais
pode também parecer um tema tradicional, haja vista a tradição
“aliancista” tanto do PCB como de seu sucedâneo, o PPS. Mas não
se trata, na atual conjuntura, de repetir uma prática instrumen-
tal visando fins imediatos. Trata-se, na verdade, de ir além disso
e incorporar, no pensamento da esquerda democrática, elementos
Um olhar sobre o fetichismo do novo
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