Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 124

Um deles é a tendência de transformar o novo em fetiche , resvalando para uma atitude ingênua ou encantada com qualquer novidade . É preciso não perder de vista que , embora estejam ocorrendo transformações importantes no cenário político , muitas delas apenas colocam problemas antigos sob novas formas , ou então aceleram a necessidade de resolvê-los , dada a rápida dinâmica das mudanças no mundo atual .
Neste sentido , o tema da globalização é muito ilustrativo . Os documentos do XIX Congresso do PPS , e os debates realizados durante a Conferência Nacional da Fundação Astrojildo Pereira , apesar de indicarem certo receio com o futuro ainda incerto dos rumos da globalização , não deixam de tecer loas ao que qualificam como um processo objetivo histórico , e por isto inescapável , deixando nas entrelinhas a ideia de que os países podem e devem aproveitar-se da aproximação entre Estados e sociedades que o processo de globalização facilitou , para promover uma cooperação internacional , em um novo patamar histórico .
Esta visão de mundo do PPS é interessante porque reproduz , ainda que de forma diferente , o velho sonho internacionalista da doutrina marxista e da internacional comunista : aproveitar a internacionalização do capital para aproximar os trabalhadores de todo o mundo e reverter esta internacionalização em prol do mundo do trabalho e da humanidade . Esta aspiração , contudo , nunca se materializou , e a solidariedade internacional , ao longo da história moderna , sempre foi suplantada pelo nacionalismo , quando estas duas forças disputaram a lealdade dos povos .
A globalização não tem mudado absolutamente nada na relação assimétrica entre os países desenvolvidos e o resto do mundo . O centro detém os processos de inovação tecnológica e os investimentos financeiros , enquanto a periferia tenta adaptar-se a esta realidade para não ficar alijada dos fluxos financeiros , do comércio e das cadeias produtivas dominadas pelos governos e empresas do Ocidente , e mais recentemente pela China . Da mesma forma , empresas dos países centrais , principalmente dos Estados Unidos , detêm o quase-monopólio das redes de comunicação e da produção de cultura de massa e entretenimento , disseminando seus valores e modo de vida para o resto do mundo , independentemente das culturas locais . A “ aproximação ” entre as sociedades na realidade tem sido uma disseminação , sem precedentes , da cultura de uma sociedade – a norte-americana – para o resto do mundo . A novidade aqui é que , se antes eram somente as elites da
122 Paulo César Nascimento