Um olhar sobre o fetichismo do novo
Paulo César Nascimento
O
XIX Congresso do PPS, em março último, foi realizado sob
o lema “Um novo olhar para um novo tempo”. Creio que este
mote reflete bem a preocupação do partido em sintonizar-
-se com as mudanças do nosso tempo. Afinal de contas, o partido
mais antigo do Brasil passou, nas últimas décadas, por um turbi-
lhão de acontecimentos que colocaram em risco sua própria exis-
tência enquanto agremiação política: o fim do socialismo real, que
o obrigou a reformar-se e mudar de nome; o advento da globa-
lização que, ao reduzir a distância entre as sociedades, trouxe
temas supranacionais para as agendas políticas nacionais; e, no
contexto brasileiro, a democratização do país e as transformações
socioeconômicas e culturais pelas quais o Brasil vem passando,
que estão colocando novos desafios para os atores políticos.
Mas se é verdade que todos estes eventos detonaram uma crise
no PPS, por outro lado o obrigaram a transformar necessidade em
virtude, iniciando um dramático tour de force político para
compreender as transformações no Brasil e no mundo, digeri-las
e reformular sua estratégia. Não é exagero afirmar que o PPS
atualmente é o partido que mais discute política e mais está
aberto ao debate e a novas propostas no Brasil, como o próprio
XIX Congresso demonstrou.
Se, por um lado, esta atitude é bem-vinda – as transforma-
ções no Brasil e no mundo exigem constante aggiornamento da
política –, mudanças, por outro lado, encerram vários perigos.
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