Riscos que nos ameaçam PD50 | Page 110

ignorado pelas ambições personalistas da cultura político-parti- dária em vigor. Um país de tamanho porte, que é lesado e entra em estado de coma, não será ressuscitado apenas por respiração artificial ou outros procedimentos imediatistas e superficiais. Não basta o tratamento antibiótico por meio de reformas puntiformes inade- quadas, incapazes de impedir a multiplicação dos micróbios polí- ticos que infestam o cotidiano da comunidade brasileira. Pode até ser importante para o alívio sintomático da crise mórbida que consome a nação, mas somente haverá a reabilitação do seu orga- nismo caso sejam desencadeadas medidas realmente transforma- doras dessa degradante atmosfera que vem desfigurando os valo- res humanos da nossa sociedade. O Estado brasileiro não pode mais funcionar na lógica com a qual foi concebido. De longa data, os governantes operam no contexto da centralização absoluta e voltada para o poder nas mãos de poucos. O centralismo não é princípio democrático. Ao contrário, é ditatorial. Fortalece o império da elite dominante, que usa e abusa dos recursos públicos em seu próprio benefício. Não por outra razão, os 26 estados da União e o Distrito Federal care- cem de um mínimo de autonomia como comunidades regionais a serem respeitadas. Por tudo isso, o Brasil padece dessa doença estrutural com alto índice de letalidade. Precisa ser corretamente socorrido. Além da inspiração humanista indispensável a toda e qualquer iniciativa em favor da população, há que se considerar também a sua validade solidamente sustentada por evidências científicas incontestáveis. Cinco princípios fundamentais deverão ser adotados como normas inegociáveis para a reversão do estado de coma em que se encontra o país, a fim de que seu organismo adquira as condições saudáveis que lhe têm sido negadas. A eficácia de cada um deles está amplamente comprovada por pesquisas científicas pertinen- tes. O primeiro é o conceito de que as desigualdades sociais não são resolvidas com meros discursos ou medidas falaciosas. De fato, já de longa data tem sido demonstrado, à exaustão, que as diferenças entre as classes sociais resultam do segregacio- nismo com que é tratada a primeira infância, correspondente aos seis primeiros anos de vida, período essencial à construção dos pilares da personalidade. 108 Dioclécio Campos Júnior