ignorado pelas ambições personalistas da cultura político-parti-
dária em vigor.
Um país de tamanho porte, que é lesado e entra em estado de
coma, não será ressuscitado apenas por respiração artificial ou
outros procedimentos imediatistas e superficiais. Não basta o
tratamento antibiótico por meio de reformas puntiformes inade-
quadas, incapazes de impedir a multiplicação dos micróbios polí-
ticos que infestam o cotidiano da comunidade brasileira. Pode até
ser importante para o alívio sintomático da crise mórbida que
consome a nação, mas somente haverá a reabilitação do seu orga-
nismo caso sejam desencadeadas medidas realmente transforma-
doras dessa degradante atmosfera que vem desfigurando os valo-
res humanos da nossa sociedade.
O Estado brasileiro não pode mais funcionar na lógica com a
qual foi concebido. De longa data, os governantes operam no
contexto da centralização absoluta e voltada para o poder nas
mãos de poucos. O centralismo não é princípio democrático. Ao
contrário, é ditatorial. Fortalece o império da elite dominante, que
usa e abusa dos recursos públicos em seu próprio benefício. Não
por outra razão, os 26 estados da União e o Distrito Federal care-
cem de um mínimo de autonomia como comunidades regionais a
serem respeitadas.
Por tudo isso, o Brasil padece dessa doença estrutural com alto
índice de letalidade. Precisa ser corretamente socorrido. Além da
inspiração humanista indispensável a toda e qualquer iniciativa em
favor da população, há que se considerar também a sua validade
solidamente sustentada por evidências científicas incontestáveis.
Cinco princípios fundamentais deverão ser adotados como
normas inegociáveis para a reversão do estado de coma em que se
encontra o país, a fim de que seu organismo adquira as condições
saudáveis que lhe têm sido negadas. A eficácia de cada um deles
está amplamente comprovada por pesquisas científicas pertinen-
tes. O primeiro é o conceito de que as desigualdades sociais não
são resolvidas com meros discursos ou medidas falaciosas.
De fato, já de longa data tem sido demonstrado, à exaustão, que
as diferenças entre as classes sociais resultam do segregacio-
nismo com que é tratada a primeira infância, correspondente aos
seis primeiros anos de vida, período essencial à construção dos
pilares da personalidade.
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Dioclécio Campos Júnior