REVISTA VEGANIZA ED. 01 | Page 45

A INTERSECCIONALIDADE O Projeto de Lei 21/2015, de março, que propunha anular a permissão garantida pela Lei nº 12.131 ao sacrifício animal em rituais de religiões de matriz africana gerou manifestações de apoio e contrárias na comunidade vegan, pois alguns consideraram esta uma postura racista. A “vaquinha” online para arrecadar dinheiro para assistência aos porcos feridos no acidente de um caminhão no Rodoanel em São Paulo foi alvo de críticas de movimentos em defesa dos direitos da mulher, que fizeram comparações ao engajamento das pessoas para o financiamento coletivo do tratamento médico da Gisele Santos – a jovem de 22 anos teve suas mãos decepadas pelo ex-namorado. Alguns veganos consideraram a crítica especista, pois prevalecia a importância de uma espécie animal sobre outra. V Você considera o veganismo como interseccional entre a exploração dos animais e questões de liberdade de todos os animais, incluindo humanos? THALLITA Veja quantas minorias de classes sociais, raças e crenças são oprimidas na sociedade, isso é uma forma de exploração. Ser vegano e ser racista não faz o menor sentido. Este mesmo raciocínio se aplica à perseguição de religiões de matriz africana, entre outras situações importantes. É preciso fazer um recorte de diferentes realidades e enxergar uma a uma dentro de seu contexto. barra. Para mim, isso é libertação animal. Excluir seres humanos é especismo. V Onde as pautas do veganismo vão ao encontro as da população negra? Por que criar um grupo exclusivo para pessoas negras vegans? THALLITA Porque muita gente estava cansada de sofrer preconceito e acabava se afastando do veganismo, deixava de se manter ativa e engajada em outras questões. O grupo foi criado para que pudéssemos nos empoderar e ver que não estamos sozinhos, para termos voz diante de atitudes opressoras. Tem gente que diz que é racismo reverso [risos]. Lá trocamos informações e falamos de veganismo sobre a nossa realidade, do povo pobre e negro. FOTOS: divulgação V Você trabalha em um bufê que não é vegano. Há conflitos por isso? THALLITA Algumas pessoas têm condições de recusar um trabalho numa empresa não vegana, mas não funciona assim. Por outro lado, quando organizo eventos vegans incluo carnistas para cozinhar. É uma oportunidade de trabalho e de aproximação, para que tenham contato e vejam de perto como é fazer a comida vegetariana. Faço o que é possível para estimular a reflexão sem forçar a veganiza 45 fb.com/revista.veganiza