Revista Sindesp-RJ Revista Segurança Privada Edição Março 2019 | Page 24
ARTIGO
A Segurança Privada
nos novos tempos
Vinicius Cavalcante
A
polarizada e acirrada campanha
política que culminou com a elei-
ção de Jair Bolsonaro, certamente
impactará o segmento da Segurança
Privada. Há muito que a segurança
passou a representar uma enorme pri-
oridade para os brasileiros de todas as
classes sociais.
Ideias que preponderaram na con-
dução das políticas de segurança ao
longo dos últimos 20 anos, como “ca-
deia não resolve”, “o crime é fruto da
desigualdade social”, “o grande proble-
ma da violência são as armas dos ci-
dadãos, que vão parar em poder de cri-
minosos”, acabaram por conduzir-nos
a desconfortável situação em que nos
encontramos, com o assustador índi-
ce de 60 mil assassinatos, assaltos em
vias públicas acontecendo em todo lu-
gar, roubos perpetrados por grandes
grupos armados com as mais moder-
nas e poderosas armas militares, em-
presas que fecham as portas e se mu-
dam do País por força da inseguran-
ça, latrocínios e policiais caçados nas
ruas e mortos diariamente... Tudo isso
agravado pela enorme corrupção que
entrava a máquina pública e impede –
direta ou indiretamente – a
implementação de soluções efetivas,
que venham ao encontro dos anseios
dos cidadãos.
O quadro de nossa insegurança pú-
blica vem se agravando a cada dia e o
enfrentamento dessa criminalidade se
torna cada vez mais espinhoso.
Em resposta, a população, maciça-
mente, votou contra o garantismo dos
direitos dos bandidos, tanto aqueles
que assaltam armados nas ruas, quan-
to aqueles sofisticados, de colarinho
branco, grandes empresários e políti-
cos que, com sua indumentária cara,
fala mansa e suas canetas vistosas por
vezes promovem mais a morte de nos-
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REVISTA SEGURANÇA PRIVADA
sos compatriotas do que os tiros dos
bandidos. A população votou contra o
desarmamento do cidadão, que conti-
nuou prioridade do Estado mesmo de-
pois do resultado do Referendo de ou-
tubro de 2005. A população votou pela
penalização de quem deve, e não pelo
cerceamento da liberdade daqueles
que, mesmo pagando uma elevada
carga de impostos, se veem cercea-
dos no seu direito de ir e vir.
O quadro de insegurança
vem se agravando a cada
dia e o enfrentamento
dessa criminalidade
se torna cada vez
mais espinhoso
Mas os criminosos, que hoje mais
bem armados do que jamais estiveram,
há muito vêm mudando suas táticas,
agindo como uma bem articulada guer-
rilha, difícil de ser enfrentada, sobretu-
do com nossas leis antiquadas. Sabe-
dores de que o Governo recém-eleito
lhes elegera como adversário a ser
combatido de forma prioritária, eles já
vêm buscando desafiar o abertamen-
te Estado.
Se o País já havia se estarrecido
com as revoltas prisionais nas regiões
Norte e Nordeste, desde o início de
2019, no Ceará, a criminalidade está
promovendo uma série de atentados
contra as forças de segurança, bem
como contra a infraestrutura e mesmo
alvos civis, com o claro intuito de in-
fundir o terror na população. São tiros
disparados contra policiais e contra
pessoas na via pública, ataques con-
tra o comércio, incêndio de coletivos e
de veículos de passageiros e carga, de-
tonação de artefatos explosivos em
locais públicos, sabotagens contra re-
des de distribuição de energia e até a
tentativa de explosão de um viaduto
num importante entroncamento viário
foram intentados no estado do Ceará.
A veiculação de ameaças e mani-
festos dos criminosos me remete a per-
ceber algum tipo de vinculação políti-
ca (talvez própria do modus-operandi
terrorista adotado pelas organizações
criminosas, ou talvez não) e este autor
não estranharia se viesse a ser com-
provado algum tipo de ligação entre os
narco-criminosos que agem no estado
nordestino e forças políticas ou lideran-
ças da esquerda, as quais prometeram
“resistir” ao Governo democraticamen-
te eleito em outubro de 2018.
De fato, o interesse em manter o
tão arranhado prestígio político não
pressupõe a aliança com criminosos,
mas sabemos que, para muitos dos
cleptocratas que hoje até respondem
criminalmente por corrupção, para atin-
gir o Governo recém-empossado não
importaria que isso viesse a vitimar ci-
dadãos inocentes ou destruir proprie-
dades, levando a grande massa a lem-
brar que “no tempo deles” isso não
acontecia...
E nesse contexto a Segurança Pri-
vada precisa manter sua credibilidade,
proporcionando às instituições públicas
e privadas a segurança suplementar,
que o Estado não consegue proporci-
onar. A Segurança Privada precisa es-
tar – técnica e legalmente - pari passu
com as novas ameaças que pesam
contra seus clientes, qualificando-se
para prevenir as ações delituosas e
para, na medida do possível, salva-
guardar-lhes o patrimônio.
Nos dias que vivemos, os planos de
segurança devem ser abalizados e ver-