Revista Redescrições | Page 97

97 espacializado. Aqui, foco especificamente na dimensão da atmosfera projetada, o ar que respiramos em uma construção. Parte da aventura da arquitetura moderna é que ela também tem se voltado para os lados aparentemente imateriais do ser – nomeadamente, a residência humana em um cenário atmosférico –, expressos em termos técnicos e estéticos. A arte moderna da habitação não será capaz de voltar a um nível anterior de projetar contêineres humanos. Após ter percorrido esses passos, torna-se claro o que quero dizer quando afirmo que o apartamento (junto com os estádios de esportes) é o primeiro ícone arquitetural do século XX. Uma monadologia é necessária para pensar o interior, atualmente. Um homem – um apartamento. Uma mônada – uma célula mundo… … e no começo do modernismo arquitetural, a máxima era: uma pessoa não casada (one unmarried person) – um apartamento. Correto. As construções modernas de apartamentos repousam em uma ontologia baseada no celibato. Assim como a Biologia moderna define vida como a fase bemsucedida de um sistema imunológico, nós podemos, em Teoria da Arquitetura, definir a existência como a fase bem-sucedida de uma casa para solteiros (one-person household). Todas as coisas (every-thing) são desenhadas na esfera interior do apartamento. Mundo e casa se misturam. Se uma existência de solteiro (one-person existence) pode, de fato, ter sucesso, é somente porque há um amparo arqui-tetural (arch-tectural) que transforma o apartamento ele mesmo em um mundo inteiramente prostético. Os primeiros arquitetos modernos, então, estavam corretos ao verem a si mesmos como modeladores da humanidade. Se ignorarmos o quê de megalomania, o que fica é o fato de que os arquitetos de apartamentos para solteiros (one-person apartments) ativaram a versão em massa de um tipo historicamente singular de ser humano – talvez, esse tipo singular de ser humano tenha sido pré-figurado (pre-figured) de outra maneira pelos monges eremitas cristãos. Você descreve o apartamento como um estúdio de relações do eu consigo mesmo (studio of self-relationships). Se tivermos em mente que a história da humanidade começou quando as hordas foram formadas, com uma divisão Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]