Revista Redescrições | Page 93

93 Nem tudo que implicitamente existe precisa ser tornado explícito. Uma explicação cobre apenas aquelas partes do contexto da vida que podem ser tecnicamente reconstruídas. A hipótese subjacente do meu empreendimento é uma proposição metabiológica: o que chamamos de tecnologia repousa sobre a tentativa de repor os sistemas biológicos e imunológicos sociais implícitos com sistemas imunológicos sociais explícitos. Você precisa entender o que você quer repor melhor do que um mero usuário entende. Se você deseja construir um protético, você tem de ser capaz de definir a função do órgão a ser substituído mais precisamente do que se você usa o original. Aqui, você se move da afirmação funcional real para o nível do geral e então volta para o possível equivalente funcional. E você pode reconhecer os funcionalistas pelo fato de que eles sempre fazem duas perguntas: em princípio, o que o sistema alcança nesta forma atual? E, finalmente, o que poderia ser feito em vez disso? Os arquitetos são muito bons nisso. Quando constroem uma residência privada, perguntam: quais características este espaço privado deve ter? Do que ele deve ser capaz? Ele é, acima de tudo, um espaço protetor, que proporciona alívio. Como podemos representar isso com meios técnicos? Os arquitetos provavelmente pensariam: “precisamos construir lugares fofinhos!” E isso provavelmente não estaria muito longe do alvo. Se você perguntar o que um lugar fofinho representa, então em termos de análise funcional você chega no conceito de “primazia da atmosfera isolada”. E se você reconheceu a primazia de tal atmosfera isolada, de fato a primazia da atmosfera per se, então os arquitetos podem definitivamente inferir disso que não podem ter ideologias geométricas como seus pontos de partida. Em vez disso, precisam pensar em termos de efeitos atmosféricos de espaço. Isso exige um forte ato de tradução. A intimidade é uma categoria intersubjetiva que pode ser expressa, espacialmente, de muitas maneiras diferentes. Como eu disse, interpreto a subjetividade como um relacionamento espacial não físico. As criaturas do tipo humano podem, através da existência conjunta, gerar o efeito Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]