Revista Redescrições | Page 88

88 fundamentos da Biologia Teórica [Theoretische Biologie], Jakob von Uexküll já tinha afirmado: “Foi um erro acreditar que o mundo humano consti-tuiu (consti-tuted) um estágio compartilhado para todas os seres vivos. Cada ser vivo tem o seu próprio estágio especial que é tão real quanto o estágio especial que possuem os humanos… Essa percepção nos oferece uma visão completamente nova do universo como algo que não consiste em uma única bolha de sabão que tenhamos enchido tanto que fomos bem além de nossos horizontes e assumido proporções infinitas e que é, ao invés disso, constituído de inúmeras bolhas de sabão, uma seguida da outra, que se sobrepõem e se interseccionam em todo lugar”. O próprio Le Corbusier utilizou a imagem da bolha de sabão para explicar a essência de uma boa construção: “A bolha de sabão é completamente harmônica, caso o sopro nela contido seja distribuído igualmente, e bem regulada internamente”2. Esta declaração poderia ser considerada o axioma da esferologia: o espaço vital só pode ser explicado em termos da prioridade da parte de dentro. Em sua exploração da “arquitetura da espuma”, você escreve que a modernidade, explicitamente, lida com a questão da residência. O que você quer dizer com isso? Aqui, estou desenvolvendo uma ideia que Walter Benjamin se referiu em seu Arcades Project. Ele parte da assunção antropológica de que as pessoas, em todas as épocas, dedicam-se a criar interiores e, ao mesmo tempo, procura emancipar esse tema de sua aparente atemporalidade. Então, ele pergunta: como o homem capitalista do séc. XIX expressa sua ânsia pelo interior? A resposta é esta: ele usa a tecnologia mais avançada para orquestrar a mais arcaica das necessidades, a necessidade de imunizar a exist-ência (exist-ence), ao construir ilhas protetoras. No caso da galeria (arcade), o homem moderno opta por vidro, ferro forjado e um conjunto de peças pré-fabricadas para construir o interior mais abrangente possível. Por essa razão, O Palácio de Cristal de Joseph Paxton, erguido em Londres, em 1851, é a construção paradigmática. Ela forma o primeiro hiperinterior que oferece a perfeita expressão da ideia espacial do capitalismo psicodélico. É o protótipo do interior de todas os posteriores parques 2 [Ver une Architecture, 1923] Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]