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fundamentos da Biologia Teórica [Theoretische Biologie], Jakob von Uexküll já tinha
afirmado: “Foi um erro acreditar que o mundo humano consti-tuiu (consti-tuted) um
estágio compartilhado para todas os seres vivos. Cada ser vivo tem o seu próprio estágio
especial que é tão real quanto o estágio especial que possuem os humanos… Essa
percepção nos oferece uma visão completamente nova do universo como algo que não
consiste em uma única bolha de sabão que tenhamos enchido tanto que fomos bem além
de nossos horizontes e assumido proporções infinitas e que é, ao invés disso, constituído
de inúmeras bolhas de sabão, uma seguida da outra, que se sobrepõem e se
interseccionam em todo lugar”. O próprio Le Corbusier utilizou a imagem da bolha de
sabão para explicar a essência de uma boa construção: “A bolha de sabão é
completamente harmônica, caso o sopro nela contido seja distribuído igualmente, e bem
regulada internamente”2. Esta declaração poderia ser considerada o axioma da
esferologia: o espaço vital só pode ser explicado em termos da prioridade da parte de
dentro.
Em sua exploração da “arquitetura da espuma”, você escreve que a
modernidade, explicitamente, lida com a questão da residência. O que você quer
dizer com isso?
Aqui, estou desenvolvendo uma ideia que Walter Benjamin se referiu em seu
Arcades Project. Ele parte da assunção antropológica de que as pessoas, em todas as
épocas, dedicam-se a criar interiores e, ao mesmo tempo, procura emancipar esse tema
de sua aparente atemporalidade. Então, ele pergunta: como o homem capitalista do séc.
XIX expressa sua ânsia pelo interior? A resposta é esta: ele usa a tecnologia mais
avançada para orquestrar a mais arcaica das necessidades, a necessidade de imunizar a
exist-ência (exist-ence), ao construir ilhas protetoras. No caso da galeria (arcade), o
homem moderno opta por vidro, ferro forjado e um conjunto de peças pré-fabricadas
para construir o interior mais abrangente possível. Por essa razão, O Palácio de Cristal
de Joseph Paxton, erguido em Londres, em 1851, é a construção paradigmática. Ela
forma o primeiro hiperinterior que oferece a perfeita expressão da ideia espacial do
capitalismo psicodélico. É o protótipo do interior de todas os posteriores parques
2 [Ver une Architecture, 1923]
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]