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possuindo características de uma casa e que as pessoas na cultura ocidental deveriam ser
compreendidas não somente enquanto mortais, mas também enquanto residentes de
casas. Sua relação com o mundo em sua inteireza é a de habit-antes (inhabit-ants) em
um prédio abarrotado chamado cosmos. Então, as quest-ões (quest-ions) são estas: por
que o pensamento moderno deveria dar tchau a essa equação entre mundo e casa? Por
que precisamos de uma nova imagem para designar como homens modernos vivem em
contêineres sociais e arquitetônicos? Por que eu proponho o conceito de espumas?
A resposta mais simples é esta: porque, desde o Esclareci-mento (Enlight-ment),
nós não precisamos de uma casa universal para considerar o mundo um lugar digno de
se habitar. É suficiente uma unité d'habitation, um amontoável número de células
habitáveis. Através do tema da célula habitada, posso manter o imperativo esférico que
se aplica a todas as formas de vida humana, mas que não pressupõe totalização cósmica.
O amontoado de células em um bloco de apartamento, por exemplo, não gera mais a
clássica entidade casa/mundo, mas uma espuma arquitetônica, um sistema multicâmara
constituído de mundos pessoais relativamente estabilizados.
Seria essa deterioração do mundo-casa ou da esfera totalizante em bolhas
de espuma uma imagem de entropia?
Ao contrário, na modernidade, é estabelecida uma complexidade mais profunda
que aquela possível sob a clássica noção de unidade. Nós não podemos nos esquecer
que a metafísica é o campo de sólidas simplificações e que, portanto, possui um efeito
consol-ador (consol-atory). A estrutura da espuma é incompatível com um mindset
monoesférico; o todo não pode mais ser retratado como um todo redondo e abrangente.
Deixe-me utilizar de uma anedota para indicar a mudança significativa: em suas
memórias, Albert Speer recorda que os designes para a gicanto-mânica (giganto-manic)
nova Chancelaria do Reich, em Berlim, originalmente previu uma suástica coroando a
cúpula, que teria cerca de 290 metros de altura. Em um dia de verão de 1939, Hitler,
então, falou: “A coroa do maior prédio do mundo tem que ser a águia sobre globo”. Esse
comentário deveria ser levado como atestando a restauração mais brutal do pensamento
monocêntrico imperial – como se Hitler tivesse, por um momento, intervindo na agonia
da metafísica clássica. Em contraposição, por volta de 1920, em suas reflexões sobre os
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]