Revista Redescrições | Page 86

86 Teoria das esferas Conversando comigo mesmo sobre a poética do espaço1 Peter Sloterdijk* Tradução de Giovane Martins** e Vitor Ferreira Lima*** Senhor Sloterdijk, como parte de sua trilogia sobre esferas, você propõe a criação de uma teoria que constrói espaços como categorias antropológicas chave. Por que essa ênfase? Nós temos que falar de espaços porque os humanos são, eles-mesmos (themselves), um efeito do espaço que criam. A evo-lução (evo-lution) humana só pode ser entendida se nós também tivermos em mente o mistério do insulamento/fabricação de ilhas [Insulierungs-geheimsis] que então define a emergência de humanos: humanos são animais domésticos que domesticaram a si mesmos em incubadoras de culturas primevas. Todas as gerações antes da nossa estavam cientes de que você não pode acampar do lado de fora, na natureza. Os acampamentos dos ancestrais do homem, datando de cerca de milhões de anos, já indicavam que eles estavam distanciando a si mesmos de seus arredores. No terceiro volume de sua trilogia há um longo capítulo sobre arquitetura, “Interiores: arquitetura de espumas”. Por que você escolheu essa provocativa metáfora? Primeiro de tudo, por uma razão filosófica: nós simplesmente não somos capazes de continuar a velha cosmologia da velha Europa que se apoiou em equacionar casa e lar com mundo. A metafísica clássica é um fantasma baseado em um tema implícito que foi realçado somente em alguns lugares – por Hegel e Heidegger, por exemplo –, nomeadamente que o mundo precisa ser ele mesmo construído como 1 Agradecemos a gentileza da permissão tanto do autor quanto da Harvard Design Magazine, para tradução desta entrevista, originalmente publicada em Harvard Design Magazine, Summer 2009, Number 30. (N. T.) Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]