Revista Redescrições | Page 71

71 Mais do que nunca, ler foi tão importante, uma maneira de lidar com a contingencia da realidade, com o número de incertezas, de conhecimentos que estão sempre num “devir”. Para esta discussão é necessário entender a leitura como arte: “É verdade que para praticar a leitura como “arte”, é necessário, antes de mais nada, possuir uma faculdade a hoje muito esquecida (...), uma faculdade que exige qualidades bovinas e não as de um homem moderno, ou seja, a ruminação”. (NIETZSCHE, 2009, p.23). É importante perceber aqui uma relação com a nova natureza do trabalho, onde ela parte de um fluxo de conhecimentos que não para de crescer. Trabalhar equivale cada vez mais a aprender, transmitir saberes, produzir conhecimentos. E isso só pode ser feito numa perspectiva que não seja aristocrática. Cabe lembrar que a perspectiva socrática não refutava por refutar, a sua ironia tinha por finalidade purificar o pensamento de seus apegos mortais, do diferentes dogmatismos, da prisão do falso saber. A missão de Sócrates é promover no homem a investigação em torno do homem. Para Sócrates o diálogo é a essência do pensamento, e para ele, o diálogo esta dentro do método socrático, no qual a ironia e a maiêutica fazem parte dos elementos necessários para o diálogo. Assim, com suas perguntas, Sócrates deixava embaraçado e perplexo todo aquele que acreditava ter segurança de suas respostas, e com isso levava seus interlocutores a ver novos problemas, novas perspectivas. Através deste método, Sócrates buscava desfazer a máscara que os cidadãos de Atenas possuíam, e que escondiam sua verdadeira face, apresentando apenas uma fina superfície, uma verniz da verdade. Por isso ele atacava a vaidade das opiniões enraizadas nos dogmas, mas, não necessariamente dava uma resposta. Assim, aquele que era interrogado, era posto no caminho da solução, para que o mesmo a encontrasse. Tal solução era uma tarefa difícil, porque exigia muito tempo de conversação. E assim, pode-se até arriscar a dizer, que Sócrates não lecionava aos seus discípulos, mas, unia-os através da conversação, da discussão, guiando-os, e abrindo caminhos, orientando-os, para que os mesmo buscassem sozinhos a verdade. Sócrates teve contato com os Sofistas, e há um ponto interessante neste encontro. A grande diferença é que Sócrates acreditava poder chegar a verdade, uma vez que ele acreditava que era possível existir leis e valores universais. Já para os Sofistas todo e qualquer valor era subjetivo, sendo assim, reina a relatividade. Penso ser fantástico essa tomada de posição no qual a dialética é limitada. Pois, ela retira de cena uma perspectiva própria de nossa condição humana, a contradição. E pode estar expulsando exatamente a parte fundamental para a chegada de uma afirmação filosófica mais clara. Não poderia deixar de concordar com o argumento de que “toda verdade, é apenas circunstancial, histórica,”. Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]