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Mais do que nunca, ler foi tão importante, uma maneira de lidar com a contingencia
da realidade, com o número de incertezas, de conhecimentos que estão sempre num “devir”.
Para esta discussão é necessário entender a leitura como arte: “É verdade que para
praticar a leitura como “arte”, é necessário, antes de mais nada, possuir uma faculdade a hoje
muito esquecida (...), uma faculdade que exige qualidades bovinas e não as de um homem
moderno, ou seja, a ruminação”. (NIETZSCHE, 2009, p.23).
É importante perceber aqui uma relação com a nova natureza do trabalho, onde ela
parte de um fluxo de conhecimentos que não para de crescer. Trabalhar equivale cada vez
mais a aprender, transmitir saberes, produzir conhecimentos. E isso só pode ser feito numa
perspectiva que não seja aristocrática. Cabe lembrar que a perspectiva socrática não refutava
por refutar, a sua ironia tinha por finalidade purificar o pensamento de seus apegos mortais,
do diferentes dogmatismos, da prisão do falso saber. A missão de Sócrates é promover no
homem a investigação em torno do homem. Para Sócrates o diálogo é a essência do
pensamento, e para ele, o diálogo esta dentro do método socrático, no qual a ironia e a
maiêutica fazem parte dos elementos necessários para o diálogo. Assim, com suas perguntas,
Sócrates deixava embaraçado e perplexo todo aquele que acreditava ter segurança de suas
respostas, e com isso levava seus interlocutores a ver novos problemas, novas perspectivas.
Através deste método, Sócrates buscava desfazer a máscara que os cidadãos de Atenas
possuíam, e que escondiam sua verdadeira face, apresentando apenas uma fina superfície,
uma verniz da verdade. Por isso ele atacava a vaidade das opiniões enraizadas nos dogmas,
mas, não necessariamente dava uma resposta. Assim, aquele que era interrogado, era posto
no caminho da solução, para que o mesmo a encontrasse. Tal solução era uma tarefa difícil,
porque exigia muito tempo de conversação. E assim, pode-se até arriscar a dizer, que
Sócrates não lecionava aos seus discípulos, mas, unia-os através da conversação, da
discussão, guiando-os, e abrindo caminhos, orientando-os, para que os mesmo buscassem
sozinhos a verdade. Sócrates teve contato com os Sofistas, e há um ponto interessante neste
encontro. A grande diferença é que Sócrates acreditava poder chegar a verdade, uma vez que
ele acreditava que era possível existir leis e valores universais. Já para os Sofistas todo e
qualquer valor era subjetivo, sendo assim, reina a relatividade. Penso ser fantástico essa
tomada de posição no qual a dialética é limitada. Pois, ela retira de cena uma perspectiva
própria de nossa condição humana, a contradição. E pode estar expulsando exatamente a parte
fundamental para a chegada de uma afirmação filosófica mais clara. Não poderia deixar de
concordar com o argumento de que “toda verdade, é apenas circunstancial, histórica,”.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 70/78]