Revista Redescrições | Page 66

66 deveria adotar um proceder igual, ou ao menos semelhante, do artístico e estético 7 . Filosofia e estética, para Wittgenstein, não eram mais do que descrição, ou não deveriam ser mais que isso. Aplicando esse modelo da descrição gramatical na experiência estética, é possível eliminar os enigmas estéticos, porque “o que esclarece esses enigmas, o que os dissolve, é a descrição do modo como aqueles que são afetados por uma determinada obra se expressam e se comportam” (CRESPO, 2011, p. 326). Trata-se, portanto, de um artifício para solucionar os enigmas e para decifrar a experiência que tal pessoa fez. É possível ver e descrever a expressão facial de assombro, de desaprovação quando uma pessoa se vê diante de uma pintura que não a agradou, ou de aprovação, quando possivelmente ocorre o contrário. Wittgenstein convida o interlocutor (ou o observador) a se deter na reação do sujeito e não nas possíveis palavras empregadas por ele. Dessa forma, procurando pelo gesto, analisando o comportamento humano e descrevendo esse comportamento, é possível solver todos os enigmas estéticos. A análise se volta para os gestos, para a maneira como as pessoas reagem ao co ntato com uma obra de arte, porque, nas palavras de Wittgenstein (1994, p. 238), “o corpo humano é a melhor imagem da alma humana”, ele não permite errar. Compreender o motivo, a razão de determinada reação, é o meio para solucionar os enigmas. A observância dessa reação do sujeito da experiência possibilita ter um modo de comparar: “ter um modo de comparar é possuir algo exterior à obra que não substitui a obra, mas indica um possível caminho a seguir” (CRESPO, 2011, p. 327). Em resumo, o gesto é elevado por Wittgenstein à condição de “expressão” que comunica de forma contundente uma impressão, a qual não pode ser verbalizada corretamente, gozando de um permanente fracasso nessa tentativa. Isso posto, é importante notar que, estendendo a análise e aplicando na atividade filosófica, é possível concluir que a própria filosofia pode ser entendida como um gesto que expressa o pensamento do filósofo. Seguindo esse raciocínio, cabe lembrar a relação de Wittgenstein com a arquitetura 8 . Para ele, a arquitetura, assim como as demais expressões artísticas, é entendida como um 7 Mais a respeito da aproximação entre a atividadeestética e a atividadefilosóficapoderáserconsultado no artigoWittgenstein: estética e filosofia, artistas e filósofos, de nossaautoria, naRevistaPeri, v. 7, n. 1 de 2015. 8 Entre os anos de 1925 e 1926, W ittgenstein supervisionou, juntamente com Pau l Engelmann, o projeto de construção da nova casa de sua irmã Gretl. Neste ponto cabe destacar que, de acordo com Ju lián Marrades (2013, p. 145), o trabalho arquitetônico de Wittgenstein possivelment e tenha sido influenciado pela atividade arquitetônica de Adolf Loos, conhecido como „Nova Objet ividade”. Loos caracteriza a oposição entre o antigo e o novo mediante a distinção entre arte e ofício. Seu ponto de vista fundamental é que não pode haver um caminho direto entre a arte e o ofício, dado que entre ambos se interpõe o tempo. O que Loos defende é que Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 56/69]