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particular quando se tratava de questões éticas ou religiosas. (SAMOVILLA, 2013,
p. 58)
A ciência não pode dizer nada a respeito porque ela não tem alcance nesse tocante. A
expressão que melhor desempenha o papel de comunicar uma experiência desse tipo é, para
Wittgenstein, um gesto que se faz: “Lembre-se da impressão que nos provoca a boa
arquitetura, a impressão de que expressa um pensamento. Leva- nos a querer responder com
um gesto” (WITTGENSTEIN, 2000, p. 41). E um pouco à frente conclui: “em arte é difícil
dizer-se algo tão bom como: nada dizer” (2000, p. 42).
Se o nosso objetivo nesta pesquisa consiste em mapear o espaço que a estética ocupa
na filosofia wittgensteiniana, é possível então considerar que é exatamente nessa mudança de
perspectiva (entre o Tractatus e as Investigações) que a estética encontra o seu lugar.
O que Wittgenstein passa a defender nos seus últimos escritos é que a experiência do
valor deixa de ser caracterizada por um distanciamento com relação ao mundo e torna-se
agora efetivo no próprio mundo, mais especificamente no cotidiano onde os homens vivem e
onde a vida acontece. Por isso, a correta compreensão da contemplação estética reside nas
expressões estéticas, realizadas nos jogos de linguagem que os homens jogam por ocasião da
apreciação artística; afinal, para Wittgenstein, a arte é seu próprio paradigma. O desafio
derradeiro consiste em compreender como seja possível comunicar, de forma correta, as
diversas experiências decorrentes da relação humana com o mundo e com a arte.
A ARTE É SEU PRÓPRIO PARADIGMA
Na tentativa frustrada de descrever as diversas impressões provocadas pelo contato
com o mundo e com as obras de arte, o sujeito se depara com uma dificuldade naturalmente
humana, porque se trata da impossibilidade de encontrar as palavras certas, de enunciar de
forma correta e linguisticamente um sentimento de agrado ou desagrado, de prazer ou
desprazer, de gosto ou de desgosto. Porém, de acordo co m Wittgenstein, essa limitação pode
ser facilmente ultrapassada se for admitido que uma ação, um gesto ou ainda uma simples
expressão facial possam ser entendidos como meio de comunicação e descrição dessa
experiência: “nossos recursos cotidianos, a linguagem natural, os gestos, as expressões faciais
etc. serão bastante adequados para exprimir nossa experiência da significação” (MORENO,
2000, p. 61). Dito de outro modo, a dificuldade em expressar por meio de palavras uma
experiência pessoal proporcionada pelo contato com a obra artística representa o problema
que o sujeito se depara no confronto com aquilo que a obra não diz, mas mostra e faz.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 56/69]