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(WITTGENSTEIN, 1966, p. 24), ou seja, determinadas regras que fazem parte de uma
determinada cultura – “regras”, que aqui devem ser tomadas no sentido que Wittgenstein lhe
atribui, “de orientações gerais a serem adaptadas a cada situação” (MORENO, 2000, p. 73).
Que um homem seja profundamente musical significa que tem critérios e por isso sabe
escolher de maneira adequada a melhor música. E quem entende de música é quem tem o
comportamento característico daquele que compreende música:
Há u ma certa expressão característica da apreciação da música, ao ouvi-la, ao tocála, e também noutras alturas. Por vezes, gestos constituem parte desta expressão;
noutra ocasião, tratar-se-á apenas do modo como um ho mem toca, ou cantarola, a
composição, ou de vez em quando, das comparações que faz e das imagens com as
quais, por assim dizer, ilustra a música. Alguém que compreenda a música ouvirá de
modo diferente (por exemplo, co m u ma expressão facial d iferente), falará de modo
diverso do de alguém que não a compreenda. Mostrará que compreende um tema
particular não apenas nas manifestações que acompanham a sua audição ou
execução desse tema, mas na sua compreensão de música em geral. Apreciar a
música é u ma manifestação da vida da humanidade. Co mo é que poderíamos
descrever a alguém? Bem, suponho que teríamos, primeiro, de descrever a música.
Em seguida, poderíamos descrever o modo como os seres humanos se comporta m
diante dela. Mas será isso tudo o que necessitamos de fazer, ou é igualmente
necessário ensinar-lhe a co mpreendê-la por si próprio? Bem, levá-lo à compreensão
ensinar-lhe-á nu m outro sentido o que é a compreensão, mais do que uma exp licação
que tal não consegue. E ainda, induzi-lo à co mpreensão da poesia ou da pintura pode
contribuir para a explicação do que está implicado na compreensão da música.
(WITTGENSTEIN, 2000, pp. 105-106)
São nesses comportamentos, a que se pode chamar jogo estético, que se exp ressa a
compreensão musical daquele que conhece as regras. A compreensão da arte surge, assim,
ligada a um conjunto de comportamentos característicos que expressam essa mesma
compreensão e resulta de um conhecimento das regras estéticas, no caso da música: das regras
de harmonia, da composição, etc.
OS JOGOS E A IMPOSSIBILIDADE DE UMA CIÊNCIA ESTÉTICA
Os problemas estéticos pertencem aos jogos em que as regras se desenvolvem e
consequentemente podem ser assimiladas e aprendidas. Wittgenstein lembra que é possível
realizar cursos, assistir a aulas sobre pintura,
música ou poesia, mas a teoria não seria
suficiente. Somente por meio do contato direto com a atividade artística é possível aprender
as regras (em geral indicativas) e desenvolver a habilidade.
Um fato importante é aqui que aprendemos certas coisas apenas através de uma
longa experiência e não através de um curso na escola. Como desenvolvemos, por
exemplo, u m olhar de entendimento? Por exemp lo, alguém diz: „Este quadro não é
deste nem daquele mestre‟ – faz, portanto, uma afirmação que não é u m juízo
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 56/69]