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Trata-se, portanto, de um deslocamento do saber o que é a arte, ou qual é a essência da
arte, para apurar as diversas situações, circunstâncias e momentos em que se usa a palavra
“belo”. É como se Wittgenstein preferisse perguntar quando existe arte, uma pergunta que
implica olhar as situações em que a experiência com as obras de arte acontece e descrever o
que se vê. Uma investigação na qual o que tem de ser aceito são as mais diversas formas de
vida (CRESPO, 2011).
Isso porque é no contexto das formas de vida que os homens se relacionam com a arte,
apreciando-a ou não. Se, em um primeiro momento, representado pelo Tractatus, a estética
fazia referência a uma experiência do olhar, agora, a estética está relacionada com a ideia de
expressão. No contexto da arte, uma ação ou um gesto, dado o seu valor expressivo, é
admitido por Wittgenstein enquanto descrição da impressão que o sujeito sente ao contemplar
uma pintura, ao ouvir uma música, enfim, ao se relacionar com a arte. Essas experiências são
perfeitamente comunicáveis dentro de uma determinada comunidade hermenêutica.
É importante salientar que o olhar continua ocupa ndo um espaço essencial na
perspectiva wittgensteiniana, uma vez que a atividade de ver aspectos exige daquele que
observa uma transformação não do mundo ou dos objetos, mas do próprio olhar, o que
implica reconhecer que a mais simples de todas as coisas pode ter um valor estético, o que
transformaria as coisas em verdadeiras obras de arte.
Trata-se, portanto, de um novo
paradigma na análise dos juízos estéticos.
UM NOVO PARADIGMA NA ANÁLISE DOS JUÍZOS ESTÉTICOS
Assim como no caso da linguagem, no caso da estética não está em questão uma
investigação a respeito das formas das palavras, mas uma atividade cujo intuito é esclarecer
como essas expressões fazem parte da forma de vida dos falantes. O objetivo da investigação
estética em Wittgenstein é encontrar o uso que se faz dessas expressões. Em Estética,
psicologia e religião, Wittgenstein assegura que:
Para ser claro, no que respeita à palavra estética, você tem de descrever modos de
vida. Julgamos que temos de falar acerca de juízos estéticos como „Isto é belo‟, mas
verificamos que, quando nos cumpre discutir ju ízos estéticos, não encontramos
absolutamente tais palavras, mas antes uma palavra usada mais ou menos à guisa de
gesto, acompanhando uma comp licada ativ idade. (WITTGENSTEIN, 1966, p. 28)
O juízo estético, em geral caracterizado por adjetivos como belo ou feio, é substituído
pela atribuição de um determinado comportamento ou reação frente às obras de arte. Somente
por meio de um gesto ou uma expressão facial é possível apresentar, de modo exato, o que
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 56/69]