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Ver aspectos: a atividade estética em Wittgenstein
Edimar Brígido*
RESUMO:
A recorrência com que Wittgenstein tratava dos problemas relacionados com a arte e a
estética, nos últimos escritos e nas últimas aulas, indica que ele concebia importante a
elucidação de tais problemas e esse trabalho consistia por si mesmo uma atividade filosófica.
Nesse sentido, o horizonte desta pesquisa consiste em compreender qual é o espaço ocupado
pela estética na filosofia de Wittgenstein, destacando, sobretudo, a atividade de ver aspectos,
típico das Investigações Filosóficas. A forma como o filósofo tratou dessa questão mostra que
não a abordou de uma maneira sistemática, como fez, por exemplo, com os problemas de
lógica, mas sim, em uma rede muito ampla de conexões, com diferentes motivos de natureza
filosófica. No TractatusLogico-Philosophicus, a estética representa um excesso frente àquilo
que pode ser expresso por meio de linguagem, sendo, dessa forma, inclusa no grupo do
inefável. Porém, a partir de uma mudança de perspectiva, é possível observar como a
compreensão lógica cede lugar a um olhar que não coloca exigências de pureza e coerência
lógica, mas aceita todos os gestos humanos como sendo igualmente significativos. Nesse
sentido, Wittgenstein mostra a experiência de se ficar maravilhado com um objeto através de
um movimento sentimental natural e acessível a todos: trata-se da experiência de ver
aspectos. A possibilidade dessa visão reside na transformação do olhar, ou seja, ver todas as
coisas e a vida de todos os dias de tal forma que o objeto da visão, sem se alterar, se
transforma à frente dos nossos olhos e surge como uma verdadeira obra de arte. O que o
pensador vienense pretende é demonstrar o quanto esse movimento é importante não só para a
estética, mas para toda a filosofia.
Palavras-chaves: Aspectos. Gesto. Estética. Olhar. Transformação.
ABSTRACT:
The recurrence which Wittgenstein used to deal with the problems related to art and
aesthetics, in the latest writings and classes, indicates that he conceived important the
elucidation of such problems and this work itself consisted of a philosophical activity. To this
end, the horizon of this research consists of comprehending what is the space occupied by the
aesthetics in Wittgenstein’s philosophy, highlighting, mainly, the activity of seeing aspects,
typical of the Philosophical Investigations. The way the philosopher dealt with this question
shows that it was not approached by a systematic way, as he did, for example, with the logical
problems, but he did it in a wide network of connections, with different reasons of
philosophical nature. In the TractatusLogicoPhilosophicus, the aesthetics represents an excess
in face of what can be expressed through the language, being, thus, included in the ineffable
group. However, based on a change of perspective, it is possible to observe how the logical
comprehension gives way to a different look, which doesn’t demand purity and logical
coherence, but accepts all the human gestures as being equally significant. That said,
Wittgenstein shows the experience of being amazed by an object through a natural
sentimental movement and accessible to all: which is the experience of seeing aspects. The
possibility of this view lies in the transformation of the look, that is to say, see all the things
and life everyday in such a way that the object of sight will transform itself in front of our
eyes and arise as a genuine work of art. What the Viennese thinker intend is to demonstrate
how this movement is important not only for the aesthetics, but for the philosophy as a whole.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 56/69]