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desenvolve uma explicação naturalizante para esclarecer as situações pelas quais se
originaram as distinções arbitrárias entre experiência e natureza e como devem ser
superadas.
Nessa explicação, de cunho evolucionista, ele destaca que os organismos
fisiológicos, seja o homem, sejam os animais inferiores, empenham-se em adaptações
ao ambiente para manter o processo da vida. Em relação ao homem Dewey declara que,
no processo vital, a inteligência humana vai encontrando as melhores soluções que
visam à experiência, ao processo de adap tação. O cérebro e o sistema nervoso são
órgãos de ação e padecimento, agem sobre o meio e sofrem ações externas. Se não há
quebra de continuidade natural e histórica, a experiência cognitiva tem sua origem na
experiência de tipo não cognitivo. Para Dewey, não faz sentido falar de uma experiência
transcendental. Somente quando o caráter temporal das coisas experienciadas é
esquecido é que se concebem noções como a “transcendência” do conhecimento 21.
Assim do ponto de vista da experiência prevalecem os processo interacionistas.
Um organismo pode estar envolvido em formas simples e limitadas de articulação
consigo mesmo e seu entorno, como acontece com as formas mais simples de
comportamento biológico, ou numa atividade mais rica e extremamente complexa, de
natureza intelectual. De todo modo, esse processo implica relações nas quais se obtêm
acréscimos decorrentes da interação dos organismos. Esses acréscimos são mudanças
qualitativas adquiridas no processo de experienciar. Trata-se de uma equação que é
aditiva porque o organismo é uma parte do mundo natural e não um obstáculo à parte.
Isso envolve, portanto, uma ocasião para a continuidade e não para o inverso 22 .
Assim, os componentes principais de nossa relação com o ambiente podem ser
traduzidos na experiência anterior ao pensamento reflexivo, ou seja, na experiência
primária, sem a qual nossas aptidões cognitivas não teriam se desenvolvido. Dewey
apresenta a ideia de conexão e não de oposição entre os dados da realidade e o
pensamento, valorizando assim na experiência a noção de continuidade. Tudo está em
comunicação, em processo, há um fluxo contínuo na experiência23 .
Dewey pensa que é preciso superar as doutrinas transcendentalistas e considerar
outra perspectiva que garanta o fluxo dos acontecimentos e a noção de continuidade. É
21
SHOOK, John R. Os pioneiros do pragmatismo americano. Trad. Fábio M. Said. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002, p. 150.
22
GEIGER, G. R. John Dewey in Perspective - a reassessment. NewYo rk; Toronto; London:
McGraw-Hill Book Co., 1958, p. 19.
23
DEW EY, John. Experience and Nature. New Yo rk: Dover Publications, Inc., 1958, p. 28.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]