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opor ao sensualismo empirista de Hume e Mill. Para este intérprete, Peirce e Dewey
“descobriram que a experiência apresenta regularidades estáveis que tornam alguns
juízos universais apropriados no caso de processos naturais”12 . Por isso, a
universalidade de que trata Dewey não é a de um conteúdo universal ou de um ente
absoluto. O que requer a universalidade é o processo de investigação, sua possibilidade
de aplicação em situações subsequentes e sua condição intrínseca de autocorreção.
Conforme De Waal (2007), mesmo que o pragmatismo de Dewey seja
experimental, ele evita um materialismo reducionista. Assim, o pragmatismo de Dewey
dá ao pensamento e às relações de pensamento uma função primária e construtiva 13 .
Por fim, a concepção de conhecimento em Dewey não toma como ponto de
partida as certezas estabelecidas a priori, pois só podemos saber o que são as coisas ao
final do processo de inquirição, não tendo sentido perguntar pelo conhecimento e sim
pelo termo “inquiry”, que Dewey herda de Peirce 14 . Dewey passa a preferir a utilização
do termo inquirição, que será utilizado no sentido de assertividade garantida. Segundo
De Waal15 , esse termo foi introduzido a partir da sua obra Lógica, de 1938, para
substituir crença e conhecimento. A intenção de Dewey foi afastar-se das imprecisões
do termo crença, cunhado por James, e adotar uma linguagem mais científica e menos
ambígua na defesa de seu naturalismo filosófico.
Por uma Epistemologia Realista e Naturalizada
Dewey reclama um novo contexto em que as noções de experiência e natureza,
que historicamente foram avaliadas como incompatíveis, possam ser compreendidas em
unidade. Na tradição racionalista, essas categorias só são compreensíveis quando
ligadas a algo não natural e transcendental. Coisa semelhante acontece também na
tradição empirista, na qual o materialismo mecanicista trata de empregar a ideia de que
a natureza só pode ser interpretada como algo mecanicamente determinado, fruto das
relações de causalidade e dos princípios empíricos e materiais 16 .
12
SHOOK, John R. Os pioneiros do pragmatismo americano. Trad. Fábio M. Said. Rio de
Janeiro: DP&A, 2002, p.150.
13
DE WAAL, Co rnelis. Sobre pragmatismo. Trad: Cassiano Terra Rodrigues. São Paulo:
Ed ições Loyola, 2007, p. 169
14
ARAÚJO, Inês Lacerda. Dewey e Rorty: Um debate sobre a justificação, experiência e o papel
da ciência na cultura. COGNITO ESTUDOS: Revista Elet rônica de Filosofia, São Paulo, Volu me 5,
Nú mero1, janeiro -junho, 2008, p. 02.
15
DE WAAL, Co rnelis. Sobre pragmatismo. Trad: Cassiano Terra Rodrigues. São Paulo:
Ed ições Loyola, 2007, p. 170.
16
DEW EY, John. Experience and Nature. New York: Dover Publications, Inc., 1958, p. 3a.
Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]