Revista Redescrições | Page 35

35 opor ao sensualismo empirista de Hume e Mill. Para este intérprete, Peirce e Dewey “descobriram que a experiência apresenta regularidades estáveis que tornam alguns juízos universais apropriados no caso de processos naturais”12 . Por isso, a universalidade de que trata Dewey não é a de um conteúdo universal ou de um ente absoluto. O que requer a universalidade é o processo de investigação, sua possibilidade de aplicação em situações subsequentes e sua condição intrínseca de autocorreção. Conforme De Waal (2007), mesmo que o pragmatismo de Dewey seja experimental, ele evita um materialismo reducionista. Assim, o pragmatismo de Dewey dá ao pensamento e às relações de pensamento uma função primária e construtiva 13 . Por fim, a concepção de conhecimento em Dewey não toma como ponto de partida as certezas estabelecidas a priori, pois só podemos saber o que são as coisas ao final do processo de inquirição, não tendo sentido perguntar pelo conhecimento e sim pelo termo “inquiry”, que Dewey herda de Peirce 14 . Dewey passa a preferir a utilização do termo inquirição, que será utilizado no sentido de assertividade garantida. Segundo De Waal15 , esse termo foi introduzido a partir da sua obra Lógica, de 1938, para substituir crença e conhecimento. A intenção de Dewey foi afastar-se das imprecisões do termo crença, cunhado por James, e adotar uma linguagem mais científica e menos ambígua na defesa de seu naturalismo filosófico. Por uma Epistemologia Realista e Naturalizada Dewey reclama um novo contexto em que as noções de experiência e natureza, que historicamente foram avaliadas como incompatíveis, possam ser compreendidas em unidade. Na tradição racionalista, essas categorias só são compreensíveis quando ligadas a algo não natural e transcendental. Coisa semelhante acontece também na tradição empirista, na qual o materialismo mecanicista trata de empregar a ideia de que a natureza só pode ser interpretada como algo mecanicamente determinado, fruto das relações de causalidade e dos princípios empíricos e materiais 16 . 12 SHOOK, John R. Os pioneiros do pragmatismo americano. Trad. Fábio M. Said. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.150. 13 DE WAAL, Co rnelis. Sobre pragmatismo. Trad: Cassiano Terra Rodrigues. São Paulo: Ed ições Loyola, 2007, p. 169 14 ARAÚJO, Inês Lacerda. Dewey e Rorty: Um debate sobre a justificação, experiência e o papel da ciência na cultura. COGNITO ESTUDOS: Revista Elet rônica de Filosofia, São Paulo, Volu me 5, Nú mero1, janeiro -junho, 2008, p. 02. 15 DE WAAL, Co rnelis. Sobre pragmatismo. Trad: Cassiano Terra Rodrigues. São Paulo: Ed ições Loyola, 2007, p. 170. 16 DEW EY, John. Experience and Nature. New York: Dover Publications, Inc., 1958, p. 3a. Redescrições - Revista online do GT de Prag matis mo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 30/55]