Revista Redescrições | Page 105

105 indesejada. Já que a maior parte das pessoas diz a mesma coisa durante toda a sua vida – e seus jogos de linguagem são, em regra, completamente repetitivos –, vivemos em um mundo de redundância simbólica que funciona da mesma maneira que uma casa de paredes espessas. “A linguagem é a casa do ser”, postulou Heidegger, e estamos gradualmente entendendo (under-standing5) o que ele quis dizer quando apareceu com essa frase. A linguagem é uma firme fortaleza na qual podemos repelir o aberto. Porém, nós, ocasionalmente, deixamos visitantes entrar. Nas relações humanas, falar e construir usualmente criam segurança suficiente de modo a só vez ou outra permitir ekstase. Por essa razão, do meu ponto de vista, o arquiteto é alguém que filosofa no e através do material. Alguém que constrói uma habitação ou erige uma construção para uma instituição faz uma afirmação sobre a relação entre o ekstático e o enstático ou, caso você queira, entre o mundo enquanto aparta-mento (apart-ment) e o mundo enquanto ágora. * Peter Sloterdijk é filósofo, considerado um dos maiores renovadores da Filosofia atual, autor da trilogia Esferas. ** Giovane Martins é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA) e estudante de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). *** Vitor Ferreira Lima é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA) e estudante de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E-mail: [email protected]. 5 É impossível traduzir para a língua portuguesa o jogo semântico aqui estabelecido quando, em inglês, Sloterdjik hifeniza a palavra “understanding”, desmembrando “under” de “standing”, querendo dizer algo como “estagnação em uma posição inferior”. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]