Revista Redescrições | Page 100

100 atômicos que costumamos chamar de indivíduos. Em vez disso, é uma miscelânea de meios sociais que são estruturados como subculturas. Basta pensar no mundo dos amantes de cavalos – uma enorme subcultura na qual você poderia se perder, em todo o seu tempo de vida, mas que é igualmente boa e invisível, caso você não seja um membro. Existem centenas, senão milhares, de meios sociais no atual terreno social que têm a tendência de, a partir de seu próprio ponto de vista, formar o centro do mundo e, ainda assim, serem igualmente bons e inexistentes para os outros. Eu os denomino “sistemas inter-ignorantes” (inter-ignorant systems). E, entre outras coisas, eles existem em virtude de uma regra de cegueira. Eles não podem tomar ciência um do outro, se não seus membros seriam subtraídos do prazer de pertencer a um seleto grupo de poucos especialistas. No que diz respeito a profissões, há apenas dois ou três tipos de humanos que podem dar-se ao luxo da poli-valência (poly-valence) em lidar com meios sociais. Os primeiros são os arqui-tetos (arch-tects), que (ao menos virtualmente) constroem contêineres para todos; os segundos são os romancistas, que inserem pessoas de todos os estilos de vida em seus romances; finalmente, vêm os sacerdotes, que falam nos enterros de todas as possíveis classes de mortos. Ops! Esqueci-me dos novos sociólogos à la Latour. Em outras palavras, por um lado, a múltipla personalidade e, por outro, o solitário fazedor de contatos em rede (networker) – essas são as duas opções que considero abertas a popu-lações (popu-lations) individualizadas. O modo como o homo sapiens é influenciado pelo dote de seus tempos de horda é, sem dúvida, insuper-ável (insurmount-able), porém, porque a explicação dessa antiga herança continua simultaneamente em várias direções, os elementos proto-sociais da vida do homo sapiens podem ser retrabalhados. Eles levam a um tribalismo eletrônico. Em padrões (motifs) diádicos, em contraste, os relacionamentos íntimos são explicados a tal nível que a intimidade pode, literalmente, ser desempenhada através da mídia técnica da suplementação de si mesmo. A longo prazo, surgem tipos humanos que são bastante diversos dos que conhecemos agora. O apogeu dos modelos que você descreve para apartamentos, do início da modernidade até o pensamento de Kisho Kurokawa e do urbanismo até Constant, Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano VI, nº 1, 2015 [p. 86/105]