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(1998, p. 487). Ele analisa o cenário no útero não apenas de uma perspectiva biológica,
mas também sônica e, portanto, psicológica. É a câmara musical pré-natal que forja o
senso de escuta, o senso que é o coração de toda a interação humana, seja de tipo íntimo
ou público (1998, p. 530; 2006, p. 166). Com o nascimento da criança, ocorre a
expulsão da esfera que se habitou durante a fase inicial da existência. Na visão de
Sloterdijk, todas as atividades humanas que se seguem do nascimento são criações de
outras esferas, tentando substituir a acolhedora experiência do útero.
Em sua esferologia, Sloterdijk examina os modos pelos quais as esferas foram
concebidas através da História. Embora as esferas possuam componentes materiais, é o
intangível, o frágil, o compartilhado, o etéreo e o elusivo que representam sua essência.
É por essa razão que Sloterdijk se esforça em mudar o foco da orientação tradicional a
substâncias e objetos para uma perspectiva que captura o fluido, o flutuante e o sutil. É a
relação, a “coisa” entre pessoas que está no coração de sua investigação. Entretanto, ele
não limita sua análise ao meio de diálogo e à comunicação direta; ao invés disso, ele
estabelece uma teoria antropológica de espaços compartilhados, de campos nos quais
subjetividade e intimidade são geradas (2006, p. 137). Ao fazê-lo, ele estabelece
fundamentalmente uma geografia da generosidade. Do ponto de vista de Sloterdijk, o
espaço é um fenômeno social no sentido de que carrega significado somente quando é
compartilhado com outros. Compartilhar significa ser generoso com o outro. Isso
motiva Sloterdijk a investigar as estruturas de generosidade que criam espaços (2004, p.
884).
O conceito de espaço, ele mesmo, é infinito. Para conter a infinitude e criar
espaços nos quais compartilhar possa ser vivenciado, Sloterdijk sugere falar sobre
esferas humanas. Como em Geometria, esferas humanas giram ao redor de ao menos
dois polos. No caso de esferas humanas, esses polos são representados por seres
humanos individuais povoando uma esfera e compartilhando seu espaço com outros
(2006, p. 161). Com o estabelecimento de uma esfera humana, algumas barreiras entre o
interior e o exterior são criadas. O espaço compartilhado é isolado do resto do espaço
infinito. Dentro da esfera, o espaço pode ser manipulado. Essas manipulações podem
resultar em climas específicos (2004, p. 309). Sloterdijk usa o termo clima não apenas
para denominar um estado meteorológico, mas também para se referir a nove
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]