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metodologicamente, anterior à filosofia. Curioso pensar, por outro lado, que os
exemplos são freqüentemente a contra-prova desse hábito de cientista, remontando a
referenciais ordinários (quem foi o inventor do zíper, pp. 31-32; quem é o homenzinho
verde, p. 352; o jogo de faz-de-contas, pp. 353-368), sorvendo de um imaginário
plantado na gentry, a pequena nobreza britânica (Príncipe Charles desmaiou, p. 313; o
gato preferido da Rainha, p. 121).
Há também uma outra característica marcante no livro de Evans: a proliferação
de termos e noções oriundas do vocabulário jurídico (que tem uma técnica específica,
com desenvolvimentos próprios) e financeiro, e que em momento algum são
tematizados por Evans. Nisso vemos uma inclinação normativa que esse tipo de
vocabulário alimenta: “dividendo”, “crédito”, “garantia”, “dever”, e neste sentido
também a figura do interlocutor digno de confiança, “trustworthy”, cujo lugar
privilegiado na teoria de Evans (pp. 308 e 313) não é posto em questão, tendo todavia
grande importância na comunicação entre os envolvidos.
Agora trataremos de traçar uma linha da loucura a partir do livro de Evans, ou
melhor, traçando essa linha queremos levantar a relevância do estudo da loucura para
uma filosofia tal como Evans a entende. Loucura, entretanto, não é bem o que se
encontra em Variedades da referência, e já vimos, é verdade, que o atrelamento de tal
filosofia à noção de sujeito impede a constituição de outra subjetividade que não a de
uma pessoa racional, de juízo sensato e confiável no que diz respeito à sua índole e à
nitidez de sua pronúncia, ciente e praticante de uma língua dominante; lá não entra
pessoa cujo sistema informacional esteja operando sob mau f չ