Revista Redescrições | Page 84

84 metodologicamente, anterior à filosofia. Curioso pensar, por outro lado, que os exemplos são freqüentemente a contra-prova desse hábito de cientista, remontando a referenciais ordinários (quem foi o inventor do zíper, pp. 31-32; quem é o homenzinho verde, p. 352; o jogo de faz-de-contas, pp. 353-368), sorvendo de um imaginário plantado na gentry, a pequena nobreza britânica (Príncipe Charles desmaiou, p. 313; o gato preferido da Rainha, p. 121). Há também uma outra característica marcante no livro de Evans: a proliferação de termos e noções oriundas do vocabulário jurídico (que tem uma técnica específica, com desenvolvimentos próprios) e financeiro, e que em momento algum são tematizados por Evans. Nisso vemos uma inclinação normativa que esse tipo de vocabulário alimenta: “dividendo”, “crédito”, “garantia”, “dever”, e neste sentido também a figura do interlocutor digno de confiança, “trustworthy”, cujo lugar privilegiado na teoria de Evans (pp. 308 e 313) não é posto em questão, tendo todavia grande importância na comunicação entre os envolvidos. Agora trataremos de traçar uma linha da loucura a partir do livro de Evans, ou melhor, traçando essa linha queremos levantar a relevância do estudo da loucura para uma filosofia tal como Evans a entende. Loucura, entretanto, não é bem o que se encontra em Variedades da referência, e já vimos, é verdade, que o atrelamento de tal filosofia à noção de sujeito impede a constituição de outra subjetividade que não a de uma pessoa racional, de juízo sensato e confiável no que diz respeito à sua índole e à nitidez de sua pronúncia, ciente e praticante de uma língua dominante; lá não entra pessoa cujo sistema informacional esteja operando sob mau f չ