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sistema harmônico de comunicação entre uma comunidade ideal de pessoas. Mesmo
que exista a possibilidade de uma alternância na identidade do sujeito18, as funções que
ele cumpre como fundador da unidade do objeto não são discutidas para além da
pretensão de que o mundo é tal que os juízos de um sujeito são bem sucedidos ao emitir
informações sobre o mundo, contanto que o conteúdo desses juízos, as próprias
informações tenham sido devidamente referidas por qualquer pessoa competente, para
então serem conscientemente representados e capturados como elementos identificáveis
no sujeito19.
Hilary Putnam, numa feroz resenha20 ao livro que nos concerne (onde ele não
apenas censura o uso excessivo de operações da lógica-matemática ao longo da obra,
mas a tecnicalidade do próprio teor do texto de Evans21), diz o seguinte: “o que dá
substância à noção de filosofia como uma disciplina técnica, para Evans, é sua
impressionante confiança de que está descobrindo verdades conceituais indisputáveis e
não apenas falando de um jeito que ele acha instigante”22. Neste trecho, Putnam parece
encontrar também a subjetividade do próprio autor imiscuída no sentido que este dá à
filosofia, e mais importante ainda, o autor enquanto subjetividade produtora de
enunciados, num movimento de adequação do que ele enuncia segundo a lógicamatemática e o que ele mesmo pretende fundar enquanto objeto de estudo filosófico.
Diríamos, então, com outras palavras, que em Evans (mas talvez se pudesse abarcar
muitos autores da filosofia analítica neste comentário) ocorre um hábito de se propôr
enunciados codificáveis pelo sistema formal de uma lógica-matemática que é,
18
Como exemplo, no seguinte argumento (EVANS: 1982, p. 209): “a Idéia que alguém tem de si
mesmo deve também compreender, de uma ponta a outra e acima do vínculo-de-informação [informationlink] e do vínculo-de-ação [action-link], um conhecimento daquilo que, para uma identidade da forma ‘I =
δt’, deveria ser verdade, onde δt é uma identificação fundamental de uma pessoa: uma identificação de
uma pessoa que – diferentemente da identificação-do-‘eu’ [‘I’-identification] – é de um tipo que poderia
estar disponível para um outro alguém” (nosso grifo).
19
“Deveria eu argüir que o caso de nosso conhecimento de nossas próprias ações [...]
similarmente nos compele a uma identidade entre o si mesmo [self] e a coisa física: o agente – o sujeito
de desejos, pensamentos e intenções – é identificado com o objeto que move e muda no mundo”
(EVANS: 1982, p. 224).
20
“A Technical Philosopher”, in London Review of Books, vol. 5, nº 9, 19 maio 1983.
Encontrado em: http://www.lrb.co.uk/v05/n09/hilary-putnam/a-technical-philosopher.
21
“Uma coisa que não dá pra ficar sabendo por uma resenha é a implacável tecnicalidade do
livro. Ele não pode ser usado num curso de graduação em filosofia da linguagem sem umas tantas
disciplinas preliminares sobre Davidson, sobre Kripke etc. (pra não falar num curso preliminar de lógicamatemática). É um livro endereçado aos fiéis especialistas de Evans, e apenas a eles. Filosofia, como
Evans a visualiza, é tão esotérica quanto mecânica quântica.” No sítio virtual, em seguida à resenha,
encontra-se uma resposta do editor de Varieties of Reference (John McDowell) à resenha de Putnam, e
neste ponto McDowell parece prejulgar que uma “audiência geral” seja capaz de entender as
tecnicalidades de Evans, estando estas, é claro, resenhadas por alguém cuja vida é dedicada ao estudo da
filosofia analítica (Hilary Putnam), o que prova a conveniência do termo “esotérico”, usado por Putnam.
22
Putnam (1983).
Redescrições - Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 77 a 89]