Revista Redescrições | Page 82

82 comunicação são capturadas de muitas partes: no controle do Estado, nas práticas e teorias midialógicas etc. Kant, por outro lado, enquanto intercessor filosófico de Evans, é sentido mais na ausência que num efetivo confronto entre ambas as filosofias. Restringindo-se à Crítica da razão pura, Evans no entanto deixa escapar uma das principais distinções apresentadas por Kant nesta obra, segundo a qual se apreende dois tipos de síntese, uma que partiria de determinações espaço-temporais para pô-las em correspondência a determinações conceituais (recognição), e outra que partiria do conceito para buscá-lo na intuição (esquema). Ambas as sínteses são, evidentemente, uma operação do conhecimento, mas são também atos da imaginação, e não meramente de uma imaginação que gera imagens (denominada imaginação reprodutora): Kant dá um sentido completamente novo à imaginação enquanto produtora de espaços-tempo, atuando na origem das matemáticas e da geometria, bem como na criação estética de um artista (e que desemboca nos fascinantes desdobramentos da Crítica da faculdade do juízo, com a experiência do sublime e a liberação da imaginação de modo que ela alcance uma função legisladora, ou a criação de um acordo livre e indeterminado entre as faculdades, sem cair no dogmatismo que afirma uma harmonia entre o sujeito e o objeto). O motivo por que Evans deixa escapar esse grande momento da filosofia kantiana está na maneira como ele concebe a imaginação, que parece não passar de uma variação arbitrária da memória16. Pressuposto IV – Um sujeito universal cujas habilidades específicas no trato de informações garantem a objetividade do mundo. Numa filosofia racionalista de tipo clássico (com a qual enxergamos não poucas afinidades na teoria de Evans), há um sujeito cujo acesso à verdade do mundo é dado através de uma inclinação à verdade, uma inclinação inata ao sujeito e que lhe põe em contato com a verdade do mundo. Evans, com toda certeza, não mais precisa dessa noção antiga17 para constituir uma identidade do sujeito com o mundo, mas a postulação do sujeito evansiano requer a mesma função, que é desempenhada pelas habilidades que este possui, as quais lhe é devido usar, na forma de juízos, de modo a constituir um 16 (EVANS: 1982, p. 246-247). Que pode ser remontada a Aristóteles: “Todos os homens, por natureza, anseiam saber” (Met. I, 980a), ou “desejam”, conforme a tradução de Tomás de Aquino para ρέγω: “Proponit igitur pr