Revista Redescrições | Page 80

80 ouvido (voz de alguém digno de confiança) que o príncipe morreu... mas aí não vale, “isso obviamente não é um mecanismo pelo qual o falante [que disse que alguém desmaiou] linguisticamente manifesta sua pretendida confiança”6. Tão bem arraigado se encontra este pressuposto, que uma recomendação surge, na página 310 e posta entre parênteses, com base num controle daquilo que é dito ou do que é esperado ser ouvido por interlocutores de um tipo determinado, isto é, já introduzidos numa prática de regras de conversação, e onde o tom moralista é reticente: “É considerado impolidez usar o nome de algo já de cara, se não for esperado da audiência ser capaz de identificar o referente. Em tal situação, a polidez exige que se diga, não 'Eu jantei com NN', mas 'Eu jantei com alguém chamado NN'”. Pressuposto III – Um sistema subjetivo de acontecimentos fenomênicos (seemings), estes codificados como conteúdos de informação. Gostaríamos de apontar o quanto Evans pode ser considerado devedor da teoria kantiana das faculdades transcendentais. Para tanto, tomemos os seguintes trechos das Variedades: Os únicos acontecimentos que concebivelmente podem ser considerados como dados para um sujeito consciente e racional são aparências [seemings] – acontecimentos, isto é, já imbuídos com (aparente) significação objetiva, e com uma necessária, embora resistível, propensão para influenciar nossas ações7; Os estados informacionais que um sujeito adquire pela percepção são nãoconceituais, ou não-conceitualizados. Juízos baseados em tais estados necessariamente involvem conceitualização: movendo-se de uma experiência perceptiva para um juízo sobre o mundo (usualmente exprimível em alguma forma verbal), o que se estará fazendo é exercer habilidades conceituais básicas8; O sujeito concebe a si mesmo como estando no centro de um espaço (em seu ponto de origem), com suas coordenadas dadas pelos conceitos ‘cima’ e ‘baixo’, ‘esquerda’ e ‘direita’, e ‘na frente’ e ‘atrás’. Podemos chamar isso de ‘espaço egocêntrico’, e pensar sobre posições espaciais nessa estrutura [framework] centralizante no corpo do sujeito pode ser chamado de ‘pensar egocentricamente sobre o espaço’. Os pensamentos-do-‘aqui’ [‘here’thoughts] de um sujeito pertencem a este sistema: ‘aqui’ denotará uma área mais ou menos extensiva que se centraliza no sujeito9; O sujeito deve conceber a si próprio como estando em algum lugar – num ponto no centro de um espaço egocêntrico capaz de ser alargado de modo a encompassar todos os objetos10; A essência do ‘eu’ é a auto-referência [self-reference]. Isso signific