Revista Redescrições | Page 140

140 VI. Conclusão Peter Sloterdijk está certo quanto às possibilidades eugênicas inerentes à nova Genética. O debate público alemão está certo também, em minha opinião, na sua sensibilidade quanto aos danos possíveis que podem vir a acontecer. A voz da Alemanha é, então, útil nas deliberações agora em curso sobre o segundo dos dois códices antropológicos – as declarações internacionais de Bioética relacionadas à Genética. Precisamos de um contrapeso ao otimismo dirigido por interesses comerciais da indústria biotecnológica multinacional. Mas ele está errado sobre o fim do Humanismo; ler continua uma arma no arsenal contra o barbarismo, e a criação não é menos perigosa, nem mais otimista, como um sucessor a ele. A batalha continua, movendo-se com a humanidade em novas áreas do conhecimento. Sua sugestão de que antropotecnologias são métodos apropriados para a autodomesticação é seriamente enganosa. Se (e enquanto) a engenharia genética se tornar uma possibilidade humana, não serei eu quem projetarei a mim mesma. Será o tecnocrático “nós” projetando o sujeito “eles”. A ênfase liberal no individualismo e no consenso informado como substitutos para a tomada de decisão individual não pode esconder esse fato, nem evitar o perigo. Outro alemão, Berthold Brecht, viu a diferença entre sujeito agente e paciente – localizou-a de modo claro, expressando amargamente no meio do século passado: […] Und wenn nur einer fresst, dann bin Ich es, Und wenn einer wird gefressen, bist es Du! * Mary V. Rorty é Clinical Associate Professor no Stanford University Medical Center e Fellow do Stanford Center for Biomedical Ethics. E-mail: [email protected]. ** Vitor Ferreira Lima é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA) e estudante de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E-mail: [email protected]. Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]