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VI. Conclusão
Peter Sloterdijk está certo quanto às possibilidades eugênicas inerentes à nova
Genética. O debate público alemão está certo também, em minha opinião, na sua
sensibilidade quanto aos danos possíveis que podem vir a acontecer. A voz da Alemanha
é, então, útil nas deliberações agora em curso sobre o segundo dos dois códices
antropológicos – as declarações internacionais de Bioética relacionadas à Genética.
Precisamos de um contrapeso ao otimismo dirigido por interesses comerciais da
indústria biotecnológica multinacional.
Mas ele está errado sobre o fim do Humanismo; ler continua uma arma no
arsenal contra o barbarismo, e a criação não é menos perigosa, nem mais otimista, como
um sucessor a ele. A batalha continua, movendo-se com a humanidade em novas áreas
do conhecimento. Sua sugestão de que antropotecnologias são métodos apropriados
para a autodomesticação é seriamente enganosa. Se (e enquanto) a engenharia genética
se tornar uma possibilidade humana, não serei eu quem projetarei a mim mesma. Será o
tecnocrático “nós” projetando o sujeito “eles”. A ênfase liberal no individualismo e no
consenso informado como substitutos para a tomada de decisão individual não pode
esconder esse fato, nem evitar o perigo. Outro alemão, Berthold Brecht, viu a diferença
entre sujeito agente e paciente – localizou-a de modo claro, expressando amargamente
no meio do século passado:
[…] Und wenn nur einer fresst, dann bin Ich es,
Und wenn einer wird gefressen, bist es Du!
* Mary V. Rorty é Clinical Associate Professor no Stanford University Medical Center e Fellow do
Stanford Center for Biomedical Ethics. E-mail: [email protected].
** Vitor Ferreira Lima é pesquisador do Centro de Estudos em Filosofia Americana (CEFA) e estudante
de Filosofia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). E-mail:
[email protected].
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]