Revista Redescrições | Page 134

134 A terceira exegese histórica que explica o ponto de Sloterdijk é uma interpretação de O Político de Platão, uma discussão feita para desenvolver regras racionais para a política – a arte de pastorear a polis. Nesse diálogo, como aponta Sloterdijk, não são só as regras pelas quais as pessoas estariam dispostas a serem governadas que estão em questão. Há ampla evidência de que os princípios pelos quais poderia ser possível produzir sujeitos complacentes, bons cidadãos, estão também sob consideração. Está conectado a Platão que “as regras para o parque humano” do título, ou mais precisamente, as regras para a administração do menschenpark substituem o “códex de antropotecnologia”. No curso do diálogo, ele afirma, as “regras de comportamento”, aquelas pelas quais agentes racionais livres voluntariamente governariam a si mesmos, são gradualmente substituídas por um “códex de consentimento”, características de indivíduos, por quem eles podem ser criados por correspondência criteriosa que os fará cidadãos produtivos de um estado bem governado. O que Platão põe na boca do Estranho é o programa de uma sociedade humanística que é incorporado em um único Alto-Humanista (HighHumanist), o senhor do régio pastoreio. A tarefa desse Super-Humanista (Uber-Humanist) seria não menos que o planejamento das características de uma elite, cujos membros devem ser nutridos para o bem de todos.3 A tarefa do Humanismo é a “domesticação” do homem, reprimir a bestialidade e encorajar a civilidade; mas o fim da cultura literária deixa apenas a companhia da leitura e a criação como meios restantes disponíveis para o avanço da civilização. III. Interpretando a mensagem Se isso é o que ele está sugerindo, o que cabe a nós fazer? Quando li o “Elmauer Rede” pela primeira vez, vislumbrei ali uma faísca de sensacionalismo. À medida que observava mais atentamente os textos sobre os quais ele construía sua estrutura de analogia, comecei a apreciar mais a extensão com que Sloterdijk conhece e entende a tradição da qual ele está anunciando o fim. Não resta dúvida de que suas interpretações dos três grandes textos aos quais se refere são leituras “puxadas” (porque facilmente contestáveis). Como uma fã de longa data de trocadilhos 3 Ibidem, p. 14. (tradução da autora) Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]