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rigorosa do homem com respeito às suas capacidades biológicas e a sua ambivalência
moral. Você se torna o que lê; o Humanismo é uma técnica para reunir as pessoas em
vez de fazê-las estrangular umas às outras.
De acordo com Sloterdijk, na “Carta sobre o Humanismo” (sobre a qual sua
“Elmauer Rede” é um comentário), Heidegger declarou o fim do Humanismo, incitando
um fim à dependência de potências externas, sejam elas ontológicas ou teológicas. O
homem não é mais para ser pensado em sua relação com outra coisa que não seja o
próprio homem. Mas Heidegger não vai longe o suficiente. Sloterdijk o critica por fazer
do homem, ao invés, um pastor e porta-voz do Ser, subordinando-o, a algo muito similar
ao deus que ele estava tentando substituir, e também por afastá-lo bruscamente de seu
eu animal e corporificado. No lugar, Sloterdijk prefere a metáfora do autopastoreio. O
homem não é o pastor do Ser, mas é o pastor e domesticador/criador do homem.
Se somos primariamente dependentes de nós mesmos para a nossa pacificação e
melhoria, o que podemos esperar em termos de técnicas e automelhoria? O que e como
podemos ensinar se os livros estão fora de moda, e dois milênios de tradição
humanística, como a História recente sugere, têm se provado inútil?
Voltando-se para o Assim falava Zaratustra de Nietzsche, Sloterdijk invoca a
conexão entre leitura e criação (Lesen e Auslesen, Lektionen e Selektionen). Zaratustra
afirma que as pessoas se tornaram fisicamente menores, em decorrência de séculos de
exposição ao altruísmo cristão e à “moralidade do escravo” – “ihre Lehre von Gluck
und Tugend”. Se você é ou se torna o que você lê, então, por uma cuidadosa escolha do
cânone, pessoas podem ser melhoradas ou degeneradas. Essa conexão, Sloterdijk
sugere, dá-se de ambas as maneiras. Se o que acontece na mente influencia o corpo,
talvez o que aconteça no corpo influencie a mente. Na ausência de um amplo cânone
literário de leitura, será possível que nós possamos levar adiante o projeto humanista de
reduzir o comportamento selvagem e de “domesticar” a tendência bestial do homem
através da criação de civilidade?
Heidegger distingue os homens e os outros animais de forma categórica ao
enfatizar que os seres humanos vivem em (e fazem) um mundo de significados e não
apenas o experienciam. Sloterdijk, por outro lado, estabelece um limite entre os próprios
homens: alguns podem ler, outros não podem ler; alguns procriam para
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 131 a 140]