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central.
Sloterdijk discute duas formas fundamentalmente diferentes de governo para
esferas plurais: política de mercado mundial versus hiperpolítica. Do seu ponto de vista,
é a última que é capaz de fornecer imunização sustentável para a humanidade.
Com a política de mercado mundial, as esferas plurais são reduzidas a uma ideal
supertigela, na qual indivíduos se encontram e realizam suas transações em termos
iguais. Os atores do mercado mundial tentam transformar todas as necessidades
humanas em produtos comerciais para substituir o conforto acolhedor da esfera de
casais, famílias e outros grupos menores. O pensamento do mercado mundial é um
esforço de regresso à macroesfera totalizante, típica da política clássica. Entretanto,
Sloterdijk argumenta que tal retorno está fadado ao malogro. Uma supertigela,
consistindo apenas de superfície, não é capaz de produzir intimidade, o escudo esférico
de nove dimensões que os humanos precisam para sobreviver. Além disso, é
inconcebível como e por que as ricas complexidades, acumuladas em espumas através
dos tempos possam ou devam ser reduzidas em uma supermonoesfera (2005a, p. 231).
A estrutura erótica do mercado mundial é definida pelo esforço individual de dominar
todos os outros para ganhar vantagens competitivas e dispor de ainda mais recursos de
opressão. A mesma configuração egoística é refletida nas práticas thymóticas no
mercado mundial: o mercado mundial em si não é capaz de fornecer referências
thymóticas, já que é projetado apenas para o trânsito e para transações. Os indivíduos
socialmente atomizados procuram sentimentos de superioridade ao negar ou rebaixar
seus companheiros. Não é preciso dizer que tal configuração não é capaz de produzir os
recursos imunológicos necessários para sustentar as necessidades de longo prazo da
humanidade.
As considerações de Sloterdijk sobre a hiperpolítica não são sistematizadas. Ao
introduzir esse conceito, ele define hiperpolítica em termos bastantes vagos, insistindo
que a política clássica não é mas adequada. Em tempo, ele já está preocupado com o
número crescente de “últimos homens” – a figura nietzschiana para um indivíduo sem
descendência biológica (1993, p. 76) – e insiste na importância da sustentabilidade
(1993, p. 79). Em seus últimos escritos, ele continua a trabalhar com as questões de
hiperpolítica, entretanto sem utilizar esse termo explicitamente. O termo é mantido
Redescrições – Revista online do GT de Pragmatismo, ano V, nº 3, 2014 [p. 90 a 110]