Revista Municipal | Dezembro 2018 | #28 | Page 30

30 CULTURA STEVE HACKETT Este ano o músico inglês Steve Hackett foi o cabeça de cartaz, não tendo faltado ao longo de três dias do festival outras boas opções para quem procu- rou Gouveia de 4 a 6 de maio para viver a música, rever amigos e celebrar a música progressiva. A abertura do Festival aconteceu na noite do dia 4, nos claustros dos Paços do Concelho, com os holandeses Flairck, numa formação em quinteto que apesar das quatro décadas que este projeto já leva e das muitas alterações sofridas pela sua formação, têm mantido o som que os definiu quando foram fundados por Erik Visser e Peter Weekers, numa síntese perfeita e original de folk, jazz, rock e música clássica, a qual foi sempre executada por instru- mentistas virtuosos. No sábado à tarde assistimos ao concerto da formação de Estrasburgo, o coletivo francês Camembert que cria peças originais onde mistura vários géneros musicais – rock-in-opposition, jazz, zeuhl, música clássica – e múltiplas influências – Frank Zappa, Magma, King Crimson, Gong – com grande sentido de humor e imaginação e ao regresso ao palco do Flairck, no início de noite. O concerto de encerramento do segundo dia do festival aconteceu com a apresen- tação do álbum “10.000 anos depois entre Vénus e Marte” do incontornável músico português, José Cid. Após uma breve passagem por vários grupos pop, ainda na dé- cada de 1960, José Cid tornou-se notado enquanto vocalista, teclista e compositor do Quarteto 1111; projeto pioneiro na definição do que viria a ser o rock sinfónico português. Paralelamente, no início da década seguinte, encetou uma longa carrei- ra a solo, em cuja primeira fase gravou “10.000 Anos depois entre Vénus e Marte”, um dos álbuns de referência do progressivo nacional. O terceiro dia do festival trouxe ao Palco do Teatro Cine de Gouveia aquele que foi considerado o grupo revelação do Gouveia Art Rock 2018, os americanos Bent Knee, formados em Boston e que constituem um projeto que desafia as catalo- gações musicais. Produzem um som sem limites, o qual funde uma miríade de influências que vai da pop à música minimalista. Ferozmente inovador, o grupo faz a ponte entre o experimental e o familiar, misturando textura e estilo numa música que é comovente, viciante e original. Um nome a recordar, da lista de grupos que ao longo destes 14 anos têm passado pelo Gouveia Art Rock! A tarde do terceiro dia permitiu ainda o regresso aos Claustros dos Paços do Con- GOUVEIA | REVISTA MUNICIPAL JOSÉ CID BENT KNEE celho para um concerto memorável, quer pela qualidade, quer pelo improviso e capacidade de adaptação a uma mudança, a meio do concerto, provocada pela trovoada e chuva, que se fez sentir, obrigando o grupo Magna Carta a um concer- to que se tornou acústico e que aproximou o público dos músicos. Formados em 1969, os Magna Carta depressa se tornaram numa das mais importantes bandas de folk-rock na Grã-Bretanha. Depois de dezenas de álbuns gravados, centenas de concertos ao vivo e várias mudanças de formação, Chris Simpson, cantautor e guitarrista, continua a ser o responsável pelo som inconfundível do grupo, reunindo sempre em torno de si músicos de grande talento. A Igreja de São Pedro, no centro da cidade, continuou, nesta edição a ser palco de um concerto clássico, com o pianista André Cardoso, natural de Sernancelhe, com os seus estudos feitos no Conservatório de Música de Viseu, onde traba- lhou com Rosgard Lingardsson, e na Universidade de Aveiro, integrando a clas- se do Professor Vitali Dotsenko. Posteriormente ingressou na École Normale de Musique de Paris, onde trabalhou com Guigla Katsarava, obtendo os “Diplôme d’Exécution”, “Diplôme Supérieur d’Exécution” e “Diplôme Supérieur de Concer- tiste”. O Músico tem-se apresentado em inúmeros festivais a solo e em diversas formações de música de câmara. Tocou como solista com a Orquestra Filarmonia das Beiras, sob a direção dos maestros António Lourenço, António Saiote e Ernst Schelle, e com a Orquestra Nacional de Câmara da Moldávia, sob a direção de Alexey Vasilenko. O Festival Gouveia Art Rock encerrou a edição de 2018, na noite do dia 6 de maio, com o regresso do lendário Steve Hackett. Para além de ser um dos mais importantes guitarristas da história do progressivo britânico e mundial, tendo deixado a sua marca nos lendários Genesis da fase áurea, Steve Hackett tem vindo a revelar-se também um compositor notável. De facto, ao longo de uma carreira a solo o guitarrista compôs inúmeras peças, sobre- tudo instrumentais, de elevada qualidade e grande arrojo, tanto naquelas em que se aproxima mais da linguagem clássica como nas outras em que se mantém fiel ao estilo progressivo. No palco do Teatro Cine, Steve Hackett mostrou porque continua a ser uma refe- rência da história da música progressiva, num concerto de mais de duas horas que marcou o seu regresso a Gouveia e mostrou de forma inequívoca a sua qualidade enquanto compositor e guitarrista.