Revista Municipal | Dezembro 2018 | #28 | Page 19

19 ENTREVISTA GOUVEIA | REVISTA MUNICIPAL ANTÓNIO PESSOA LOPES, LDA. RM REVISTA MUNICIPAL | O SR. ANTÓNIO PESSOA LOPES ESTEVE MUITOS ANOS EM MOÇAM- RM TEM NOÇÃO DE QUE O PESSOA LOPES É UMA REFERÊNCIA PARA MUITA GENTE? BIQUE, VEIO PARA GOUVEIA APÓS A INDEPENDÊNCIA E TEVE DE DEITAR MÃOS À OBRA… AL Sim, até para lá da fronteira. Mesmo do lado de cá, em Lisboa, no Porto, em Coim- AL ANTÓNIO PESSOA LOPES | Regressei para Gouveia, para a minha terra, após a bra… Isto funciona um pouco com o “palavra, passa palavra”. As pessoas costumam independência de Moçambique, em 1975. Vim, como muitos portugueses que re- dizer, quando encontram alguém que não consegue descobrir determinado produto: gressaram das antigas províncias ultramarinas, sem absolutamente nada. Tive de vai ao Pessoa Lopes! É assim que nos acabam por descobrir, aqui encontram tudo. me agarrar a tudo o que podia, para sobreviver. Agarrei-me ao papel velho, que não O Pessoa Lopes tem o cuidado de ter dentro do seu estabelecimento aquilo que o tinha valor nenhum, mas que para mim foi fundamental. Talvez tenha sido até o ini- cliente quer. E, por vezes, não liga a lucros. Quando não tenho um produto, man- cio do meu crescimento. Dava pouco dinheiro, mas eu comprava muito e trabalhava do-o ir buscar para o ter no meu estabelecimento. Mesmo que tenha uma margem muito para o vender. Acabei por ganhar algum dinheiro. mínima de lucro, eu quero que ele esteja aqui. Depois, infelizmente, tive de chegar a fazer contrabando de bacalhau. Ainda hoje agradeço a um fiscal que um dia me disse: “O senhor vem aqui muitas vezes com RM O LEMA PARA SI É A SATISFAÇÃO DO CLIENTE… as suas coisitas… autoriza que mande abrir?”. E eu respondi-lhe que abrisse o que AL Precisamente, é isso que faz com que eu cresça. O cliente é que me faz crescer. Se os quisesse. Foi então que ele me respondeu: “para a próxima venha, que eu man- comerciantes não conseguirem o que o cliente quer, então não estão a fazer nada. do-lhe abrir aquilo que aí tem”. Se realmente me tivesse mandado abrir, naquela Eu tenho um acréscimo de responsabilidade muito grande, aqui. Se um cliente vier altura, tinha o caldo entornado. Felizmente, não mandou, mas nunca mais tive e eu disser que não tenho, é capaz de vir à segunda vez, mas à terceira já não vem. coragem de o fazer. Não é isso que interessa ao comerciante. O que interessa é que o cliente venha, e eu responsabilizo-me por ter aquilo que ele quer. Eu tenho a impressão que talvez RM UMA DAS COISAS QUE ESTÁ NA MEMÓRIA COLETIVA DE MUITOS GOUVEENSES ERA tenha sido essa a razão de sucesso da minha empresa. AQUELE ARMAZÉM QUE TEVE NA CALÇADA DOS FRADES… AL Foi a minha habitação. Vivi ali para não ter de viver na rua. Antes tinha vivido nos RM camarins do cinema. Os senhores do cinema estavam muito amedrontados porque pensaram que eu ia fazer ali a minha residência. Diziam-me: “Atenção que vem aí ATÉ HÁ POUCO TEMPO, VIVEMOS TEMPOS MUITO DIFÍCEIS. HOJE, FELIZMENTE, AS COISAS ES- TÃO A MELHORAR. HOUVE MUITO COMÉRCIO QUE SE RESSENTIU, SENTIU ESSAS DIFICULDADES? AL Muito honestamente não senti, ao contrário dos meus colegas. Não senti porque uma revista”. E eu respondia “não se preocupem com a revista, que nesse dia pego tenho o hábito de trabalhar mais horas do aquelas que devia trabalhar. E nunca em tudo e vou dormir para a rua. Não tenham problemas, não vou dar prejuízo me preocupei com o que a concorrência faz. Eu preocupo-me com o que tenho de nenhum.” Tive a sorte de, nessa leva altura, me darem esse barracão, na Calçada fazer. Eu não mando ninguém ir ver os preços dos outros. Habituei-me a comprar dos Frades. Aquilo não tinha vidros, tinhas apenas uns cortinados. Fartei-me de um produto com um bom preço e, se não consigo, diminuo a margem de lucro. Ir apanhar frio! ver lá o preço não ajuda nada. Eu tenho é uma forma de trabalhar muito própria. RM AÍ JÁ TINHA O ARMAZÉM? RM PROCURA DIFERENCIAR-SE… AL Não, aí criei o armazém para vender cerveja, bolachas e refrigerantes em todos os AL Sim, tenho uma forma de trabalhar muito própria. Uma forma de trabalhar que não clubes aqui do concelho. Os clubes só trabalhavam à noite. Trabalhava todos os dias me deixa dormir à noite, por muito cansado que esteja. Às vezes fico acordado a até às duas da manhã, tinha de visitar todos os clubes do concelho. Andava com pensar nos preços do quilo de açúcar, por exemplo, que quero igualar. Acho que isso duas a quatro grades em cada braço, a subir e a descer escadas, e foi assim que fui tem sido a razão do meu sucesso. ganhando a vida. RM RM DEPOIS PENSOU EM LARGAR TUDO? AL Depois, em determinada altura, apareceu-me este terreno, onde é hoje o super- mercado. O Dr. Portugal, que era juiz, engraçou comigo, não sei porquê. Comprei-lhe O SENHOR AINDA TEM MUITOS SONHOS, O ÚLTIMO SONHO QUE CONCRETIZOU FOI HÁ POUCO TEMPO: A ABERTURA DESTAS BOMBAS DE COMBUSTÍVEL, ABERTAS 24H00… AL Sim, com a ajuda do meu filho Marco que impulsionou essa ideia. E agora vamos implementar outra. uns garrafões de vinho e ele engraçou comigo. Um dia soube que tinha o terreno e perguntei-lhe se o queria vender. Ele disse-me “Sim senhor, para si tudo.” Comprei ML MARCO PESSOA LOPES | Um pouco como aquilo que o município tem procurado o terreno ao juiz e depois fiz isto que está aqui. Pedi um empréstimo com 25 % fazer com a cidade - requalificar as entradas para a tornar mais atrativa. Procurámos de juros e pensei: “Nunca mais vou conseguir pagar isto”. Um dia tive de pedir fazer o mesmo com esta entrada da cidade e do supermercado. Quisemos revitalizar aos fornecedores se não se importavam de atrasar um mês os pagamentos, e eles a área envolvente do supermercado e a imagem do estabelecimento, e tornar-nos fizeram-me esse favor. Só houve um que não, houve uma firma que não aceitou. mais apelativos para os clientes. Com mais conforto e estética. Isto é uma empresa Arranjei o dinheiro e fui-lhes pagar, mas nunca mais esqueci. que já tem alguns anos e, ao fim destes anos todos, é necessário mostrar energia Depois, quando abriu o “Gildo”, as pessoas começaram a dizer que eu “ia à vida”, que para voltar a reinvestir. Continuar não só na nossa área tradicional de negócio, como não me ia “safar”. Mas as palavras levou-as o vento. Eu continuo aqui, e o “Gildo”? também em outras áreas. Estas bombas que construímos são, elas próprias, fora