Revista Municipal de Gouveia | Page 40

40 GOUVEIA

INICIATIVA PRIVADA
| REVISTA MUNICIPAL
RM QUANDO É QUE REGRESSA A PORTUGAL EM DEFINITIVO ?
AP O meu regresso a Portugal não foi imediato , digamos que foi feito gradualmente . Depois de 1961 , comecei a vir uma vez por ano , depois duas vezes e muito destas vindas tinham a ver com o próprio negócio , porque tinha que ir regularmente a Bruxelas onde possuía um escritório e acabava por passar algum tempo em Portugal .
RM FALANDO AGORA DA QUINTA DA ESPINHOSA . COMO É QUE FOI FEITA A AQUISIÇÃO DA QUINTA ?
AP A primeira aquisição de uma parcela da Quinta da Espinhosa foi feita na década de 60 , espaço este , onde acabei por construir a residência da família . A única coisa que aqui havia era uma casa antiga , cujas pedras utilizei parcialmente na construção da residência familiar . Desde muito jovem tinha em mente a aquisição da propriedade . No fundo , esta ideia , para além da intenção de plantar vinha , era também fruto de uma paixão de menino que tinha por aquele lugar . Quando era jovem , frequentava assiduamente esta propriedade e pela abundância de colibris ; uns passarinhos muito pequenos que hoje estão extintos em Portugal , veio a ideia da marca Colibri para os meus vinhos . De tão raros e preciosos , verdadeiras joias aladas , associei o nome à raridade dos vinhos Colibri . A ideia de concretizar o sonho de comprar a quinta da Espinhosa perseguiu-me durante muitos anos , até que , quando tive possibilidades , vim a Portugal , aconselhei-me com o meu pai que era um homem excecional e acabei por concretizar o sonho , um sonho que na altura era apenas uma parcela com cerca de 1 hectare . A partir deste momento , não parei mais de comprar propriedades e consegui transformar uma quinta pequena numa grande quinta .
RM NESSE PERÍODO DA SUA VIDA , QUANDO COMEÇA A COMPRAR TERRENOS JÁ TINHA EM MENTE FAZER VINHO E ENGARRAFA-LO ?
AP Sim , exactamente , já foi com essa intenção . Fui comprando mais de duas dezenas de propriedades que iam sendo anexadas para constituir a tal vinha grande . Como sabe , a nossa zona é de minifúndio e , por isso mesmo foi um processo muito complicado , mas nunca desisti – não era de meu feitio . A outra dificuldade , foi quando comecei a fazer a surriba das terras e a desconjuntar arretos , ou seja , preparar os terrenos para plantar a vinha e pode-la trabalhar com equipamentos modernos . Como sabe , os nossos terrenos estão repletos de grandes massas graníticas e para conseguir solo , foi necessário rebentar muitos milhares de tiros ( explosões com a intenção de partir a pedra ). Para fazer uma pequena ideia , durante anos , chegaram a trabalhar aqui , várias bulldozers retroescavadoras , além de uma dezena de pedreiros que trabalharam mais de 20 anos para erguerem alguns quilómetros de muros de suporte em granito . Foi um investimento brutal , mas valeu a pena . Acredito que fui compensado . A qualidade dos meus vinhos deve-se também a esse esforço acrescido . Mais tarde , foi o momento de começar a produzir vinho e engarrafar . Foi criada a Empresa Vinícola Vilanovense equipada para engarrafar . A primeira garrafa saiu em 1971 com a marca “ Colibri ” marca esta que tem a ver com as razões que atrás referi e que teve um grande sucesso no mercado . Acho que haveria poucos restaurante neste país em que na sua lista de vinhos não constasse o “ Colibri ”. Ainda hoje sinto muito orgulho em ter sido um dos primeiros produtores / engarrafadores da Região Demarcada do Dão e por consequência do concelho de Gouveia .