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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018 Passa fora! Todo mundo. Era a sua cerveja gelada pro fim de semana, eram os petiscos que ele tanto gostava. Devoravam tudo. No início o homem ainda tentou argumentar. Chega aqui meu amor. Vamos conversar. Olha... Quase sempre a mulher interrompia com um beijinho, com um cafuné, com uma cólica dos diabos, deixa pra mais tarde, era muita dor. Até a menstruação da mulher incomodava o homem. Era dor de cabeça, era TPM, era irritação, era cara feia, eram os amigos pendurados na campainha da porta, e a mulher toda sorridente indo atender. Podem entrar. E entravam já cheios de intimidade. Pegavam no controle da televisão, se esparramavam no sofá, acendiam um cigarrinho, perguntavam pela bebida e pelo salgadinho daquele outro dia. Lembra? Era quibe ou coxinha? A mulher toda solícita, às vezes nem respondia, mas ia pra cozinha e já voltava com o que tivesse. Empadinha de queijo, pastelzinho de forno, azeitonas, queijo prato cortado em cubos, rodelas de salame com limão, calabresa frita, aipim torradinho e até um frango assado, que o homem trouxera para a janta dele, ontem dançou, havia virado tira-gosto. Basta! Os degraus iam sumindo ante o desespero do homem. Desespero e pressa. O homem queria encontrar a mulher em casa. E encontrou. Ela, toda derretida, ofereceu o braço a ele. Chamou-o de menino mau, fez beicinho, deu-lhe um beijinho na testa. Ele, todo arrependido e aliviado, aceitou o braço da mulher, pediu perdão pelo berro, e foram para a cozinha. Lá, comeram, cada um uma metade, abacate com mel. Antes que os amigos chegassem. 32