Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 9ª edição | Page 34

LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018 Agora, mais do que nunca, todos acreditavam que ela era uma bruxa assassina de parentes. Na noite de sexta-feira, 13 de novembro de 2015, um grupo de meninos encapetados, liderados pelo mais endiabrado de todos, Bernardo, o diabo, resolveu pregar uma peça na bruxa de orelhas de elefante. Bernardo reunião seus colegas na garagem de casa e disse: - Quero ver quem é homem o bastante para entrar na casa da mulher elefante! Tem que entrar e sair com um objeto da casa da bruxa para provar o seu feito. Seus colegas entreolharam-se, mas ninguém se atreveu a aceitar o desafio. - Bando de frouxos! Eu vou entrar na casa daquela maldita e quero ver o que ela vai fazer comigo. Seu bando de covardes! Olhem e aprendam. Os moleques dirigiram-se à casa de Amélia Machado que, à noite, tinha um ar mais assombroso que nunca, todas as luzes estavam apagadas e parecia não haver ninguém morando ali dentro. Na verdade a casa parecia abandonada. Ninguém sabia ao certo se a orelhuda ainda vivia ali dentro. Bernardo, todo cheio de si, foi de mansinho adentrando na propriedade da pseudobruxa. Pulou o muro e foi andando feito um gato, até arrombar uma janela e adentrar no recinto assombroso. Apesar de toda a coragem que dizia ter, o menino não pode deixar de sentir um frio na barriga e um arrepio na nuca assim que pisou dentro da casa. Mas, agora que estava ali dentro, não tinha como voltar atrás; afinal, ele tinha uma reputação a zelar. Ele resolveu pegar um porta-retratos que estava sob uma mesinha empoeirada perto da parede da sala, mas a curiosidade falou mais alto e não resistiu à tentação de subir as escadas para ver se conseguia espiar a bruxa orelhuda. Andando calmamente, nas pontas do pé, Bernardo subiu feito um gato a escadaria, tremendo a cada degrau que percorria. Quando chegou ao quarto principal, o menino empurrou a porta de devagar e, olhando para a cama, não viu nada. - Bem, acho que aqui não tem orelhuda nenhuma. Isso tudo deve ser conversa para boi dormir, melhor eu ir embora e mostrar para aqueles frouxos que eu sou o homem de verdade do grupo. – pensou o garoto. Porém, quando estava pronto para dar meia volta e sair por onde entrou, Bernardo sentiu uma mão esquelética em seu ombro direito. Unhas enormes cravando sua carne e, sem saber o que fazer, soltou um grito tão alto, que pode ser ouvido da rua. - Então você pensa que pode entrar aqui e profanar o meu lar, pequeno peste? – disse Amélia Machado que, superando todas as expectativas do garoto, possuía orelhas tão grandes que formavam um conjunto grotesco junto à face horrível da mulher que, com aquelas orelhas gigantes, parecia ter três cabeças. O menino tremia da cabeça aos pés. Não pode deixar de sentir suas pernas quentes, devido ao líquido que escorria dentro de sua calça. Amélia Machado surtou. Todos aqueles anos de ofensas e maus tratos, juntos ao sofrimento causado por todas as mortes que vivenciou... Ela ficou 29