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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
Uma Cidade Chamada Inspiração
Luis Carlos Lucafe
Guaratinguetá/SP
Vou me apresentar: Me chamo Anfitrião da Silva e moro em uma cidade
pequena mas muito aconchegante chamada Inspiração. Fica localizada em uma
área encantadora onde os pássaros têm a incumbência de acordar os habitantes
com sinfonias maravilhosas. Tudo funciona muito bem, como se Deus regesse os
acontecimentos com sua batuta divinal.
Em minha cidade tudo acontece de uma maneira muito especial pois
privilegiados que somos, temos o tempo inteiro para a criação. Poetas, pintores,
escritores colhem as ideias como frutas em um farto pomar. Por isso, o nome da
cidade não é mera coincidência. Todos são beneficiados por este dom. Mas hoje
vou falar da música e de seus representantes. Artistas que são, não deixam de
absorver o que lhes é oferecido: Muita Inspiração.
O fato que vou contar se deu há algum tempo atrás e nem me lembro bem a
data exata. Numa bela tarde de domingo, os jovens moradores de Inspiração se
deram com uma linda jovem, recém-chegada à cidade. O ponto de encontro da
juventude local é a praça principal, onde a paquera e os namoros acontecem. E
foi exatamente lá que a moça resolveu passear. Os olhares imediatamente se
voltaram para ela. Seu andar, lento e compassado vinha acompanhado de um
balanço dos quadris e um charme especial. Sua simpatia se espalhava pelo local
e era sentida como se um perfume encantador irradiando magia atingisse a
todos. Os rapazes estavam maravilhados. Suspiravam e imaginavam ter a honra
de também encantar a linda moça.
Neste dia, a praça estava praticamente lotada. Lá estavam o filho do
prefeito, rapaz de linhagem familiar chamado Rima, os sobrinhos do Juiz de
Direito, o Bolero e o Maracatu, e também o despojado Rock, cujas vestimentas se
destacavam por serem de couro negro. Braceletes pontiagudos brilhavam quando
expostos ao sol. Bolero, elegantemente vestido, passava a mão pelos cabelos
como se a todo momento um mísero fio saísse do lugar adequado. Maracatu
estava mais à vontade pois não era assim tão ligado à sua aparência, embora
procurasse também se mostrar disposto a flertar com a dama. Ali também
desfilavam o Forró, primo de primeiro grau do Padre Baião, pároco local que,
como já havia terminado a missa, passeava também pela praça carregando aos
braços o gato de estimação chamado carinhosamente de Xóte. O jovem Frevo,
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