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LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018
todos. Em vez de bufar, reclamar ou se desesperar, alguém tinha decidido pôr fim
à própria vida.
— Minha amiga presenciou tudo, disse que foi um velhinho e que pegou todos de
surpresa. - a versão do idoso começava a ganhar tons de veracidade. Bom,
estávamos indo em direção a Botafogo. A prova poderia ser tirada algumas
estações depois.
Um impulso sádico me fez sair do vagão e procurar, por todos os cantos,
vestígios do famigerado suicídio. Os bombeiros, cabisbaixos, passavam, em fila
indiana, com a escada de incêndio no ombro e com os rostos fechados e sem
graça. Perto da saída da Voluntários, ví algumas pessoas ainda atônitas, outras
paradas na escada e outras no celular, contando aos parentes e amigos sobre
aquela situação nefasta que haviam presenciado.
— Ele tava bem na minha frente, viado. E vi quando ele pulou. Muito doido. -
dizia o rapaz, enquanto falava ao telefone.
Dei uma olhada para os trilhos. Nenhum vestígio de sangue ou membros, mas
ainda era possível ver o aço deslocado, muita sujeira e algumas manchas no
chão. Tentei reconstituir a tragédia na minha cabeça, mas não deu muito certo.
Era hora de seguir em frente.
O metrô voltou a funcionar normalmente e eu fui tomar uma cerveja no Baixo
Botafogo. O assunto do suicídio do velhinho ainda rendeu no início da conversa,
mas nada mais do que isso. Eu precisava beber, a velha precisava reclamar, a
moça precisava bufar e os trabalhadores precisavam se desesperar. A vida
continuou. Será?
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