Revista LiteraLivre Revista LiteraLivre 9ª edição | Page 134

LiteraLivre nº 9 – Maio/Jun de 2018 todos. Em vez de bufar, reclamar ou se desesperar, alguém tinha decidido pôr fim à própria vida. — Minha amiga presenciou tudo, disse que foi um velhinho e que pegou todos de surpresa. - a versão do idoso começava a ganhar tons de veracidade. Bom, estávamos indo em direção a Botafogo. A prova poderia ser tirada algumas estações depois. Um impulso sádico me fez sair do vagão e procurar, por todos os cantos, vestígios do famigerado suicídio. Os bombeiros, cabisbaixos, passavam, em fila indiana, com a escada de incêndio no ombro e com os rostos fechados e sem graça. Perto da saída da Voluntários, ví algumas pessoas ainda atônitas, outras paradas na escada e outras no celular, contando aos parentes e amigos sobre aquela situação nefasta que haviam presenciado. — Ele tava bem na minha frente, viado. E vi quando ele pulou. Muito doido. - dizia o rapaz, enquanto falava ao telefone. Dei uma olhada para os trilhos. Nenhum vestígio de sangue ou membros, mas ainda era possível ver o aço deslocado, muita sujeira e algumas manchas no chão. Tentei reconstituir a tragédia na minha cabeça, mas não deu muito certo. Era hora de seguir em frente. O metrô voltou a funcionar normalmente e eu fui tomar uma cerveja no Baixo Botafogo. O assunto do suicídio do velhinho ainda rendeu no início da conversa, mas nada mais do que isso. Eu precisava beber, a velha precisava reclamar, a moça precisava bufar e os trabalhadores precisavam se desesperar. A vida continuou. Será? https://medium.com/@gabrielcassar 129